sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Ir mais além

Não chegam greve gerais, não chegam debates parlamentares mornos com 0,001% de oposição bacoca, não chegam polémicas quentes sobre leitinhos com chocolate, não chegam considerações técnico-económicas sobre modelos sarko-merklianos, não chega ouvir e calar considerando que o nosso fado é morrer primeiro para euro ressuscitar depois, mendigos e nus; não chega comentar sobre o dinheiro podre e off shores nas margens da corrupção; não chega ofender-se com gordos balofos empunhando puros cubanos, talvez do contenente; não é suficiente caminhar sistematicamente sobre os mesmos passos sem vergonha e nada fazer ou, apenas, refilar; não chega! Demos anos de vida para alcançar alguma felicidade; trocámos confortos por ideias na ânsia da paz; lutámos pela possibilidade em tempos impossíveis, pela possibilidade de mudar alguma coisa, pelos mínimos da dignidade, pela cabeça erguida; por um futuro certamente imprevisível mas possível de encontrar nos caminhos da vida. Deparamos agora com um muro polido de políticos mansos por onde não é possível trepar, um muro revestido de todas as pulhices, de todas as complexidades blindadas, de todas as tiranias financeiras, de todos os atentados aos direitos mínimos dos pobres, dos trabalhadores. O caminho que se adivinha é um longo sofrimento, um empobrecimento progressivo, uma paralização do pensamento, da relação, da cultura. O que se avizinha é uma vida em rewind, um regresso ao não discutimos a pátria, uma cristalização de ricos cada vez mais ricos e de pobres tão empobrecidos que não há disso memória. O que se avizinha é insustentável em termos de cidadania. Por isso não chegam greves nem manifestações, é preciso ir mais além, bastante mais além, onde lhes doa.  

O orçamento é dele