quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Apocalypse now

Do Haiti apenas conheço histórias verdadeiramente cruéis de Ton Ton Makutes, a cara da criança crioula de cabelo amarelo olhos da cor da esperança do mar das Caraíbas, o riso franco à volta da comida e o cheiro da dança. São memórias antigas de estrangeirados que fizeram un bout de chemin ensemble. Hoje, já não consigo ver as imagens dos vários aprendizes de CNN. Vai ser mais uma narrativa audiovisual da catástrofe: as tentativas para salvar os soterrados em close-up; as entrevistas com as várias organizações de ajuda humanitária; a reportagem “em exclusivo” do trabalho das organizações; uma qualquer raridade de alguém que, ao fim de 10 dias, felizmente se salvou; os vários planos dos olhos inesquecíveis de quem falou com a morte. Mas, pergunto-me, como será abraçar um haitiano e dizer-lhe meu irmão a tua é a minha dor, toma as minhas lágrimas e mata com elas a tua sede.

2 comentários:

  1. Meu caro Fernando, como sempre tão lúcido quanto à previsibilidade jornalística e não só!
    Um abraço.

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  2. Um Fernando Nobre responder-te-ia e acharias a resposta satisfatória. Mas, de facto, são tão poucos...

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