segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A mãe

É um facto que a Ásia, particularmente a Índia é profícua em mulheres nos vários níveis do poder. Duvido que os orientais elegessem Manuela Ferreira Leite. Mas, em Portugal a mãe vai dizer ao povo, a VERDADE. Sem comícios que possam despentear a laca da rigidez. A mãe e muitos assessores a que o povo chamará tios, redigiu um programa mínimo dois em um. Santana apoia, Pacheco engole, Cavaco ( e o que ele se tem contido), está danado para poder anunciar ao país que a sua amiga foi indigitada para formar governo no qual, ele Cavaco, não desdenharia da pasta de Ministro do Interior.
A mãe vai dizer uma série de banalidades salazarentas como as mães costumam dizer aos bebés: suspenderei de imediato a avaliação de professores...os meus pequeninos são todos bons e óptimos e esse papão é que vos quer fazer passar por pessoas normais; o aeroporto vou fazê-lo às mijinhas meu pequerrucho que uma coisa tão grande assim não pode ser feita de seguida não é meu amor. E por aí adiante. O grave é que os políticos não percebem estes fenómenos básicos da segurança, do seio e do colo. Portugal está na merda, o Mundo idem e sabemos que, se a ocasião se proporcionar, os homens farão a história andar para trás com a mesma facilidade com que bebem uma bejeca com tremoços na tasca do Aníbal.
A direita faz o seu papel de predador. O que me incomoda são as posições dos partidos de “esquerda”. O Sr. Jerónimo não leu os clássicos com atenção porque se o tivesse feito (em vez de ler todas as obras de Cunhal), perceberia que há momentos em que a História (o que quer que isso seja) exige, neste caso da parte do PC, que se alie temporariamente com o seu inimigo de classe com vista a ultrapassar uma muito difícil, única e temporária situação. Que “frentise” com claros e límpidos objectivos, escalonados no seu âmbito e no seu tempo.
O puto Louçã anda há uns meses, assim que acorda de manhã, com aquela mania: hoje vou roubar 3 militantes ao PS. O puto Louçã também não leu os clássicos mas é natural, ainda não estão publicados e digitalizados nas diversas bibliotecas on-line e, que se saiba não há e-learning no FaceBook. O puto Louçã tem que saber distinguir uma coisa básica para os trotskistas que é a definição de inimigo principal sob pena de passarem a considerar afinal, Stalin um gajo porreiro. Desde que entrou nesta coisa da democracia parlamentar o rapaz anda com os conceitos baralhados. Mas surpreende-me a falta de visão e de estratégia nacionais em favor de uma lógica de aparelho. Na minha inocência e ignorância pensava que era uma atitude politica enterrada desde, para ser razoável, o fim dos anos sessenta. Mas enganei-me mais uma vez. Este já longo palavreado vai levar os leitores a pensar que serei um indefectível PS e que amo os inefáveis Lellos e Canas que têm aquele slogan — Largo do Rato forever. Enganam-se, aliás devo dizer que a única vez que fui despedido de um emprego foi pelo PS há já um par de anos. Vejam lá se acordam porque, até por uma questão estética, não me apetece ligar a televisão e levar com a cara da dirigente do PSD em mais uma conversa com os tios.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Auroville 3


Esta árvore convida a viver aqui!

domingo, 23 de agosto de 2009

Auroville 2


O modelo de cidade ocidental, grandes conjuntos de ruas, grandes conjuntos de prédios, grandes vias de trânsito, num sítio dorme-se, noutro trabalha-se, vagas de cidadãos que se deslocam numa direcção a uma dada hora e, mais tarde depois de um dia de actividade e almoços de pé, deslocam-se na direcção contrária, ralos e parcos espaços verdes, este modelo não é o modelo de Auroville. Aqui o espaço projectado para 50.000 pessoas desenvolve-se em forma de galáxia com vários ramos de espiral onde coexistem a zona residencial, a zona internacional, a zona industrial e a zona cultural. Não há espaços verdes, isto é, a cidade está dentro da floresta, as confrontações respiram, os parques são apenas zonas de floresta ainda mais densa. Há comunidades onde o vizinho mais próximo está a alguns quilómetros. Noutras zonas a densidade é maior mas humana.
"Our home, this forest, with its thousand cries
And the whisper of the wind among the leaves
And through rifts in emerald scene, the evening sky,
God's canopy of blue sheltering our lives…"

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Auroville 1



Tenho saudades de Auroville. Saudades de um território que, há 40 anos era um planalto seco, erodido, escalavrado pela monção, rocha nua sonhando com verde. Esta cidade (não sei se lhe posso chamar assim), este modo novo de vida a pensar num homem igualmente novo nasceu da visão de Sri Aurobindo, pensador e poeta indiano, e de Mirra Alfassa, La Mère, sua discípula. O projecto Auroville – cidade universal em construção, desenvolve-se no Tamil Nadu junto a Pondicherry uma antiga colónia francesa na costa do Coromandel no Sul da Índia, 160 quilómetros a Sul de Chennai.
Diz a Carta de Auroville:
“Auroville quer ser uma cidade universal onde mulheres e homens de todos os países possam viver em paz e progressiva harmonia independentemente da sua crenças, políticas e nacionalidades. O objectivo de Auroville é o de realizar a unidade humana”. Hoje, o território recuperou a floresta tropical antiga graças ao trabalho incansável dos pioneiros que, desde 1968, têm plantado milhões de árvores.
Arquitectura inovadora, políticas de sustentabilidade, invenção de novos materiais, educação sem limites são, entre outras, algumas das actividades que informam e alimentam, desde o início, este projecto. No ano passado passei alguns meses nesta cidade num sítio chamado Sri Ma, junto ao Golfo de Bengala, numa extraordinária casa de um italiano, Daniel, que vive em Auroville há cerca de vinte anos. Esta casa foi atravessada pelo tsunami em 2004. O mar entrou, levou a mobília, os objectos e as roupas, voltou a sair deixando a casa despida. Uma estátua de Vishnu sorvendo o oceano, uma das imagens da mitologia hindu, foi encontrada, de pé, encravada entre os troncos das palmeiras. Daniel desfez-se imediatamente da estátua...pero que las ai, ai!
Fotos site Auroville.org

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O templo do contrabando

Abriu em Goa o templo do contrabando. É um museu que dá a ver os objectos de grande valor, recuperados pelas autoridades bem como as técnicas, sistemas e truques com que os contrabandistas tentaram enganar as alfândegas indianas nas últimas décadas.
Seria um exemplo a seguir por Portugal, não no campo dos objectos artísticos desviados (só nos roubam a já pouca arte sacra que resta), mas no domínio das técnicas e sistemas da fraude financeira e económica. Temos aí um vasto campo e até podemos ser inovadores nesta museologia. Proponho então construir em Oeiras ou no Funchal um grande espaço cultural e pedagógico que evidencie os modos de por exemplo ser administrador de um banco e desconhecer o que lá se passa, de montar uma off-shore transparente e intocável, de fazer desaparecer milhões de euros e não ser possível encontrar o seu rasto. Este “templo dos vigaristas” não seria apenas um espaço cultural morto e de observação. Ele proporia formação avançada a candidatos seleccionados. Esta parceria entre os Ministérios da Cultura e das Finanças desenvolveria pós-graduações em “Vá para um off-shore cá dentro”, “Assine à confiança documentos inexistentes”, entre outros. Estudaria, com outros museus congéneres, pós-doutoramentos em Pirataria internacional, Ajuda Desinteressada aos Países em Vias de Desenvolvimento e Redesign de ONG (organizações não governáveis). Para o lançamento do projecto proponho a deslocação a Goa, para a realização de vários seminários, das dezenas de técnicos altamente especializados na área.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Rituais védicos de lusco-fusco 2


E fazem-se ao caminho por muito tempo. Um grupo segue os cursos de água, outro o perfil das montanhas. Percebem que é uma terra fértil, engordam homens e animais. Há tantas gerações que caminham que talvez tenha chegado o momento de assentar as palavras e os ritos coleccionados. Os xamãs, olhando os astros concordam que o local é propício. Acampam. Invocações prolongadas são feitas ao Sol, à Lua, aos ventos frescos do Norte, às águas poderosas dos rios. Tudo parece conforme com a coisa cósmica. Resolvem ficar. Inventam alfabetos e habitações precárias, fabricam utensílios próprios de gente sedentária. Com os outros habitantes da planície trocam mais intensamente línguas, costumes, invocações, afectos. Fixam em longos e sonoros textos de rigorosa métrica o que sabem do Mundo, o que lhes foi revelado na busca incessante dos caminhos do mito. Através de sacrifícios abrem uma porta de futuro que ainda hoje se não fechou.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

domingo, 2 de agosto de 2009

Rituais védicos de lusco-fusco 1


Imagino clãs em deslocação, atravessando a planície indo-gangética com rebanhos e parcos pertences. Na cabeça dos xamãs, uma parafernália de material “sruti” (revelado): mantras, invocações, entidades naturais aliadas e inimigas, sombras e penumbras que apoquentam o ser, ameaças de regresso ao fim da noite dos tempos quando todas as coisas regressam a Brahma ou, pelo contrário, auroras radiosas quando tudo é devolvido à luz e o novo dia começa, e a busca incessante e calma continua. Imagino pequenos objectos de madeira, produto do mais escrupuloso e ióguico projecto de design industrial duma qualquer Bauhaus com sede em Meru; pequenos objectos de oferta do fogo ao fogo, da água às águas exangues de um Ganges que ainda não se chamaria assim, de oferendas de manteiga para temperar os cogumelos - Soma que tornam líricas e atormentadas as invocações de deuses sem silhueta. Imagino o mistério quando, no auge da monção, um relâmpago incendeia a pradaria e Agni, soprado por Vayu, empurra esta caravana para terras e abrigos impuros, causando consternação e profunda tristeza nos clãs. Imagino a invenção de mantras e a recordação de outros tão longínquos que o som se materializa em quadrado desenhado no chão e o Oriente é propiciador de purificações demoradas e sentidas. Imagino a inquietação dentro das auroras prolongadas, no limbo dos crepúsculos misteriosos, quando o Sol se faz Lua e os animais se aquietam mortalmente. Imagino que atravessam um rio e que o povo amedrontado paralisa a sua marcha até que o Sol volta a viver e ninguém sabe para onde foi a Lua e os pássaros gritam de novo.
Imagino que se cruzam com muitas outras gentes, com muitas outras línguas que acampam longe mas suficientemente perto para mostrarem os cavalos e as vacas espantando autóctones dravídicos que, por sua vez, inventam também novos rituais. Purificam-se quando chegam, purificam-se quando partem e escrevem na memória novas palavras, novos ritos, novas formas de protecção. E fazem-se ao caminho.