terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Pré-federalismos

É este estado de pré-federalismo muito prolongado que tem permitido e ele próprio sugere a criação de estruturas híbridas - não nacionais mas não totalmente federais – que se constituem como verdadeiros poderes paralelos e de nova índole, desligados dos cidadãos. E serão tantas mais e tanto mais híbridas quanto os crescimentos cada vez mais diferenciados dos países que o constituem e a inexistência de lideranças com projecto verdadeiramente europeu e comum. É sintomática a declaração de Barroso mandando calar para que os mercados não levem a mal. É impensável que qualquer outro alto dirigente de qualquer outro bloco socioeconómico faça declarações deste teor porque, nos outros casos, em todos os outros casos, as políticas são claras e públicas. Esta é a melhor prova de que a Europa não existe. É inadmissível que esta União Europeia não tenha uma posição firme e única face às agências de rating que ditam e controlam políticas nacionais. As nossas leituras e certezas sobre democracia e estado, sobre economia política e participação, sobre trabalho e capital precisam urgentemente de ser recriadas para darem origem a novas e diria, pré-federais formas, de compreensão do real. É urgente.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Natal

Quando os aeroportos, um dos locais mais controlados do Mundo, gelam e o director de Roissy chega a casa e o filho lhe pergunta — Pai como foi o teu dia? E o pai responde como se fosse uma empregada doméstica: —Faltou-me o líquido descongelante;
Quando grande parte das notícias dão imagem aos habitualmente transparentes e não televisivos sem-abrigo e às suas ceias colectivas aparentemente não solitárias;
Quando, nos hospitais, os velhos são depositados na véspera enquanto a família se faz à estrada na mira de um cabrito ou de um acidente mortal num qualquer IP;
Quando há circos nos vários canais e a graça consiste em comer, boçalmente, bananas;
Quando demasiados padres católicos invadem a televisão laica e, em profundos e vespertinos sermões, apelam à paz e à guerra santa;
Quando um fanático taliban paquistanês se faz explodir num fila de esfomeados;
Quando isto tudo acontece podemos ter a certeza que não é Natal.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Aparente debate

Começou a opereta das presidenciais. Primeiro acto: a galinha foge do inconsciente colectivo dos partidos comunistas. Que mal fizemos nós para ter estes candidatos? Volta Cunhal estás perdoado!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Campanha eleitoral


Ouvi dizer que vai haver eleições para a Presidência da República de Portugal em Janeiro próximo, perguntavam um turista Kazak e a sua namorada (não sei se os Kazaks podem ter namorada ou só esposa (s). — Sim disse o polícia que por acaso não era estrangeiro nem de fronteiras. Ah dyes disse o Kazak em romano cirílico, é por isso que há luzes de várias cores na cidade...no nosso país, quando há eleições, os candidatos debatem, falam na comunicação social, escrevem nos jornais, existem...,aqui pelos vistos fazem programa político cada um com a sua cor de lâmpada. Muuuito orrriginal! O polícia interrogou-se pela primeira vez sobre este assunto e até se atreveu a dizer ao chefe:
— óhh chefe nem parece que vai haver eleições, chefe!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

As vinte cadeiras vazias em Oslo

Afghanistan
Arabiesaoudite
Colombie
Cuba
Egypte
Irak
Iran
Kazakhstan
Maroc
Pakistan
Philippines
Russie
Serbie
Soudan
Tunisie
Ukraine
Venezuela
Vietnam

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Europês


Aproxima-se uma maioria, um Governo, um Presidente, um BCE, um FMI, um verdadeiro inside/outside job. Tudo boa gente para nos tornarmos, finalmente, um país bem comportado, bígamo de Euro e Merkl e não transaccionável. As sondagens revelam que uma boa parte do eleitorado PS votará Cavaco. O PS tem esta grande vantagem de ser cada vez mais transaccionável. Rara qualidade politica. 2011 enterrará definitivamente qualquer perspectiva de liberdade, igualdade, fraternidade pensada em português europeu. Como diz a outra “o europês é uma linguagem complexa” mas aprendê-la-emos em sucessivos e ruinosos pós-doutoramentos.

Jacques Brel - Ces Gens La

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Parabéns Herberto Helder

"do mundo que malmolha ou desolha não me defendo
nem de mim mesmo, à força
de morrer de mim na minha própria língua,
porque eu, o mundo e a língua
somos um só
desentendimento"

Herberto Helder in A faca não corta o fogo

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

LisboaCabul

Em LisboaMogadishio a PSP investe pelos bairros protegida dos calibres perfurantes. Em LisboaBagdad a PSP blinda os bairros periféricos. Em LisboaCabul a PSP tem carros blindados sem canhão o que é lamentável porque assim as imagens televisivas são mais pobres e o pobre do observador arrisca-se a levar um tiro no olho. Já sabíamos da crise, já sofríamos com a crise. Eu ainda não me tinha dado conta da guerrilha urbana comandada pelos blindados da PSP e da GNR e pelos Pandur do exército. O presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), José Manuel Anes, entende que a existência de armas de características militares nos bairros pode ser "expressão de descontentamento de massas". É uma visão pós-moderna do poder na ponta da espingarda! Quanto ao Ministro e aos generais sedentos de brinquedos em forma de pénis não há pós-modernidade que lhes valha. Não seria melhor e daria maior empregabilidade cercar esses bairros de muros metálicos como em Israel? Até podiam ter baixos relevos em forma de testículos.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Léo Ferré - La vie d'artiste (1975)

Dardos 1

Prometi e não consigo cumprir! Não consigo enviar dardos a mais nenhum blogue e, desse modo, cumprir os objectivos da criação deste prémio: «O Prémio Dardos é o reconhecimento dos ideais que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc.... que, em suma, demonstrem a sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre as suas letras e as suas palavras. Estes selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre blogueiros, uma forma de demonstrar o carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.»
Os blogues que leio e "que transmitem valores culturais, éticos e ... criatividade através do pensamento vivo", já foram agraciados. Sorry!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Dardos



Dardo: arma de arremesso; ferrão ou aguilhão de determinados insectos; língua das serpentes; dito satírico, mordaz; aquilo que é usado para lançar veneno, para ferir, para atacar, etc. A Nossa Candeia agraciou o AyyapaExpress com esta distinção que nos toca e que agradecemos. Compete-nos agora lançar mais dardos e envolver outros blogues nesta distinção. Fá-lo-ei em breve. Obrigado.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Acordo eminente numa televisão perto de si

Que frisson! Não me emocionava tanto desde que Cavaco anunciou a sua candidatura. Que jogo de cintura senhores e com plano B e tudo. Durante uns dias até fiquei convencido de que Catroga e Santos não tinham os respectivos números de telemóvel. Pergunto para quê este jogo político? Parecem tricas de Junta de Freguesia do Portugal profundo, com todo o respeito: não jogo mais à sueca com o José Santos; e eu não vou mais à caça com o Eduardo Coelho. Que vergonha! Esta elite política do centro está gasta, corrupta desprovida de ética. Façam política, não concorram com reality shows porque perdem sempre. Façam politica se ainda sabem o que isso é.

domingo, 24 de outubro de 2010

Boca a boca

Quando um artigo de jornal começa com: “Estudo mostra que...”, só temos que nos curvar perante tanta ciência. No caso vertente um artigo do DN sobre socorrismo só confirma a minha opinião. Eu também acho que quem não tem formação em boca a boca deverá fazer boca a outra coisa qualquer, não se correndo assim o risco de perturbar a percentagem de sucesso dos dados apontados no estudo. É uma investigação de uma entidade americana, evidentemente, aqueles que colocam bips em todos os fucks. Percebe-se que defendam a mão no coração em detrimento de manobras mais íntimas que são comparáveis a sexo antes do casamento, logo condenáveis e impeditivas da ressuscitação.

sábado, 23 de outubro de 2010

Nostalgia de la luz - Patricio Guzmán - Extracto 3


Não percam se for exibido no circuito comercial. Uma parábola que se joga entre o passado do Universo e o passado recente do Chile. Magistral.

sábado, 16 de outubro de 2010

Zaping

Confesso que esta economia politica me ultrapassa. Confesso que via mais claro há uns anos atrás. Confesso que este capitalismo democrático me engana. Confesso que já não os posso ouvir. Confesso que a minha vontade é emigrar mas para um lugar do Mundo onde não se fale europês. Confesso que a língua portuguesa evoluiu muito; agora, é possível discursar através de infindáveis neo-advérbios e, no final, parece que todos têm razão. Os gajos invadem tudo o que é media e debitam longas e penosas construções de real ficção. Os gajos acham que dizem verdade, todos dizem a verdade. A verdade passou a ser supra partidária. O economês, o politiquês, o financês, passaram a fazer parte da nossa pró e contra cultura politico-sócio-económica. No nosso quotidiano muidinho, qualquer viagem de metro é um fórum aberto sobre ratings, off-shores, dívida pública, altos preços do petróleo. O Parlamento passou a concorrer com todos os Big brothers e discute shares televisivos ao milímetro. O zaping é agora entre os mineiros vedetas, as alternativas tipo Coelho/cartola, as gajas da casa da TVI e o brand ou crude. As coisas que nós sabemos! Temos o Orçamento connosco, obrigado portugueses. Fod...-se

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Metro

O projectista da estação de Metro de S. Sebastião, na ligação da linha vermelha com a linha azul, merece os nossos cumprimentos, diria mesmo, os nossos calorosos cumprimentos. Neste local, sente-se o calor humano, as pessoas roçam-se umas nas outras, há muito afecto, muito cheiro, muito corpo. Diria que é uma ligação de linhas quase sexual. São estreitas escadas de prazer quando chega um comboio, o mesmo que vai partir. Se acaso houver uma situação de pânico nessas instalações, não culpem o projectista pelos corpos espezinhados. A sua intenção era apenas estreitar o calor humano e as relações íntimas, cada vez mais ausentes do nosso quotidiano.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

OE 2011

Estava-me a apetecer escrever sobre o OGE mas tenho receio de que antes do fim do texto, me cobrem quatro ou cinco consoantes e que o resultado seja ininteligível. Já não estou a usar muitas vírgulas porque faltam e, pontos e vírgula, nem falar. Ainda me lembro do Jorge Sampaio dizer que havia vida para além do défice. Sorte a dele que a Merkl não lhe tenha cortado as vogais para não dizer o pio. Estamos a satisfazer as agências de rating (perigosa semelhança com rato) e estamos orgulhosos por a pátria não ser caloteira e defender o euro mesmo sem palavras. Defender o euro e crescer negativamente é um futuro brilhante! Estava a apetecer-me escrever sobre o OGE mas teria que usar outra gramática com vogais menos europeias, consoantes menos alemãs, orações menos dolorosas e verbos conjugados no futuro ...incondicional.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Orçamento 2011

José Pedro Passos Sócrates Coelho.
OCDE recomenda rigorosos cortes nas despesas com testosterona.

sábado, 18 de setembro de 2010

Vergonha

Não ficam envergonhados quando ouvem os argumentos do líder da bancada parlamentar do PS sobre o "cigano" do Sarko; não sentem vergonha quando ouvem Cavaco Silva dissertar sobre a ordenha das vacas magras; não vos incomoda que o Gilberto da bola vá à procura do D. Sebastião; não sentem calafrios quando os "problemas informáticos" dominam a actualidade jurídica; por estas e por outras, quando viajo e me perguntam a nacionalidade digo sempre que sou de Aruba e que falo papiamento uma espécie de português tropical que não faz parte, hélas, da CPLP.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Tai Chi Taoista

A Associação de Tai Chi Taoista de Portugal (ATCTP) é uma Entidade Sem Fins Lucrativos, membro da International Taoist Tai Chi Society (ITTCS - Associação Internacional de Tai Chi Taoista) fundada pelo Mestre Moy Lin-shin, monge Taoista que emigrou para o Canadá em 1970, com o objectivo de dar a conhecer os ensinamentos taoistas no Ocidente.
A ITTCS está representada em 26 países e aproximadamente 500 comunidades existindo em Portugal desde 1994. Disponibiliza aos seus associados treino nas artes enraizadas na tradição taoista, nomeadamente:
Tai Chi Chuan (taijiquan)
Tai Chi Espada e Sabre
Hsing I (Inspirado nas formas de luta dos animais)
Lok Hup Ba Fa (o Boxe da água)
Chi Kung (circulação da energia no corpo),
Meditação, Cânticos, Cerimónias e
Estudo dos Textos Taoistas - em colaboração com o Fung Loy Kok Institute of Taoism, no Canadá.


A ATCTP tem sede na Rua Rodrigues Sampaio, 112 cv-D em Lisboa, onde faculta aprendizagem da forma de Tai Chi, composta por uma série de 108 movimentos praticados de forma suave com vista à saúde e bem-estar para o corpo e mente. Os instrutores são voluntários, recebem treino permanente e são acreditados anualmente. São quatro os princípios que orientam a actividade da associação:

1. Tornar o Tai Chi Taoista acessível a todas as pessoas.
2. Promover os efeitos benéficos do Tai Chi Taoista para a saúde.
3. Promover o intercâmbio cultural.
4. Ajudar os outros.


A ATCTP abriu a sua página no Facebook que será um espaço de partilha de informação e um poderoso instrumento de comunicação sobre as actividades da Associação em Portugal e no Mundo.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Poucas vergonhas

Porque é que quando um grupo de vestidos ocupa uma praia de nudistas nada acontece! Em contrapartida, se um grupo de nudistas entra numa praia de vestidos. — aqui del-rei que poucas vergonhas ... a mostrarem as partes íntimas às pobres criancinhas que só conhecem nus virtuais de Playstation ... Valha-nos Deus vamos é chamar a GNR e já! Ora eu interrogo-me se a Constituição da República descrimina positivamente cidadãos vestidos em detrimento de cidadãos nus. Não acredito que tal possa acontecer com uma Constituição tão moderna e ousada ainda que redigida por pessoas muito bem vestidas. Por isso minhas senhoras e meus senhores fiquem lá nas vossas praias superlotadas, a cheirar o protector solar do vizinho, a pisar beatas e a ouvir conversas de telemóvel e deixem-nos em paz, nos nossos sítios, nus e pudibundos.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

domingo, 8 de agosto de 2010

Património urbano

Mudei de casa. Agora avisto alguns telhados e outros ritmos visuais desta cidade. E muitas chaminés de restaurantes, aqueles tubos zincados que supostamente devem evitar que os cheiros das cozinhas entrem pela casa dos moradores. Acontece que a maioria dessas chaminés não chega à cumeeira dos telhados onde estão instaladas. Por outro lado não têm em conta a altura dos prédios circundantes. Além de esteticamente horríveis não cumprem a função para que foram destinadas e, paira no bairro, um ar gorduroso e refogado. Presumo que os fiscais da câmara e os autores desta lei, também façam as suas refeições nestes restaurantes. Por isso, muitas vezes quando me falam em defesa do património, cheira-me a iscas.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Calor

Na esquina de uma paragem de autocarro, num dia de calor brutal (muito pior que o ano passado!), o meu amigo José desenhou-me a sociologia das preocupações nacionais, debatida no fórum dos transportes públicos:
1 - Meteorologia nas suas vertentes mais importantes,
a) o calor e o frio;
b) o incêndio ou a inundação.
2. Vida quotidiana,
a) a minha doença é pior que a tua;
b) o meu chefe é pior que o teu.
Este estudo de campo prova que ninguém quer saber o que pensa o poderoso ou monárquico PGR e muito menos que livros os políticos levam para férias. Apesar de tudo eu continuo a pensar que o chefe do PGR é pior que o chefe da esquadrilha de submarinos.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Modas

Almoçando (não se deve começar frases por gerúndio), num restaurante em Lisboa numa zona de serviços, deu-me para observar as vestes dos clientes. Os quadros das nossas empresas vestem azul celeste, azul bebé, azul acinzentado, cinzento azulado. Fatos cinzentos, com mais ou menos brilho da seda sintética ou azul profundo, diria mesmo aquoso e as gravatas. Grande ousadia que varia entre o azul também profundo e o grená e um ou outro raríssimo verde turquesa, com riscas a contrastar ou de padrão liso na versão mais inteligente social. Grandes rasgos de liberdade nas camisas às riscas verticais num branco mais ou menos largo. Vendo-os vestir assim percebe-se como pensam: cinzento acinzentado.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Os amanhãs que cantam

Mas de que nos queixamos? Afinal o PSD está praticamente marxista. Oiçam Calvão da Silva que defende integralmente o Estado Social — a cada um segundo as suas necessidades e de cada um segundo as suas possibilidades. Podem discordar mas terão que apresentar razões atendíveis. Que cansaço!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O tio PPC

De repente, Pedro Passos Coelho ficou velho. Já tem duplo queixo como qualquer tio de meia idade, perdeu o brilho das efémeras lantejoulas. Claro que não quer apresentar nenhuma moção de censura, ninguém quer governar nestas condições, não dá dividendos políticos. Mas PPC diz que faz propostas para o futuro. Esta "novidade" de o Presidente da República poder demitir o Governo, esta ideia afrancesada, claro que é uma ideia de futuro como ele próprio afirma, uma ideia para quando PPC se candidatar à Presidência da República, uma coisa para daqui a dez anos. Mais um verdadeiro salvador da pátria, mais um messias iluminado, mais uma figura fotocópia das várias, muitas personalidades que Portugal teima em produzir para consumo interno. Clones da história. Que cansaço!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Repartições

Tenho passado estes últimos tempos de Repartição de Finanças em Repartição de Finanças, de Conservatória em Conservatória, de Câmara Municipal em Câmara Municipal. A burocracia está, é um facto, cada vez mais digitalizada mas, a sua natureza, a extrema “complexidade” dos impressos na maior parte dos casos também mal desenhados e obscuros, a quantidade de papel e de dados para tratar um problema é de tal monta que anula qualquer tentativa simplex ou simplis e, funcionamos de facto, em câmara lenta. Enquanto se espera há quem fale ao telemóvel, há quem leia o destak do dia, há quem tenha os olhos no vazio. Eu observo. E observo que nestas oficinas do Estado, nestes subterrâneos do quotidiano, o elenco é sempre o mesmo. Os actores destas horas infindáveis de espera, deste total desconhecimento dos labirintos impressos ou digitalizados, desta sujeição às várias prepotências de funcionários de discurso codificado e hermético, o actor deste real social é sempre o povo. O povo sereno do discurso de Almirante, o povo conformado e taciturno, o povo pobre ou remediado. São sempre os mesmos que pagam os vários impostos, as multas ditas coimas, as imensas siglas transformadas em febras de engorda Tesouraria. Onde estão os outros? Nestas bichas (que me desculpem mas continuo a dizer bichas), perdem-se horas de trabalho, é permanente a ansiedade na espera do anúncio do número que se tem na mão e, quando se olha para as pessoas, sente-se uma enorme tensão como se fossem ser interrogadas por uma qualquer polícia. Os funcionários atiram com os vários códigos sublinhados a amarelo e, escudam-se nessa autoridade, nem vendo quem têm na frente. Tive a clara sensação de regressar aos anos sessenta e fiquei contente e rejuvenescido. Comemorei com uma imperial no café Lisboa. Já não existe?

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O peso do ser

Quem não pode arreia costuma-se dizer. A frase do PR quando acha insustentável a situação é pasto para especuladores e total descrédito para o Mundo. O PR não sabe o que diz. Eu estou mesmo farto do insustentável peso de ser representado por um tão leve e fútil pensamento.

terça-feira, 25 de maio de 2010

O PS apoia Manuel Alegre

O escorpião resolveu mudar de casa e por isso saiu à procura de um lugar que lhe agradasse. No caminho encontrou um rio e, como sabia que não conseguiria atravessa-lo, propôs a uma rã que o levasse às costas até o outro lado.
A rã, conhecendo a reputação do escorpião, perguntou desconfiada:
— O que me garante que não me vais matar? O escorpião, sedutor, respondeu:
— Não faz sentido teres medo de mim porque se eu te matar, também morrerei.
— E quando chegarmos ao outro lado?
— Ficarei tão agradecido que podes estar descansada.
Os argumentos do escorpião eram lógicos e a rã ficou convencida de sua sinceridade. Por isso permitiu que ele se acomodasse nas suas costas e iniciaram a travessia. Quando chegaram ao meio do rio, o escorpião deu-se conta de que ficaria a dever um favor à rã e, não se conformando, ergueu o ferrão, ferindo-a mortalmente. Ao sentir a dor da picada, a rã perguntou ao escorpião porquê, uma vez que assim, os dois iriam morrer, e este respondeu:
— Desculpa é a minha natureza … não pude evitar, agora vou-me agarrar aquele cavaco e tentar chegar à outra margem disse o escorpião à rã já cor de laranja do veneno.

Interpretação selvagem de uma fábula atribuída a Esopo

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Leo Ferre Les Anarchistes


O que me vai na alma é o princípio de uma revolta contra estes países brancos e engravatados, contra estes políticos sem soluções nem perspectivas, contra o principio do funeral de alguma hipótese de felicidade. Vivemos num espaço económico obscenamente rico com milhões de pobres, desperdiçamos toneladas de alimentos e medicamentos, pagamos a muitos milhares de funcionários para gerirem esta Europa do Atlântico aos Urais. Temos exércitos, polícias várias, aceleradores de partículas, submarinos, o Barroso, o Sócrates. O Euro até já é trocado no mercado negro de Nova Delhi. Somos uma fortaleza praticamente inexpugnável para os pobres de outras cores e, no entanto, não conseguimos montar um espaço Schengen contra os especuladores financeiros. Somos um bloco político-económico incompetente. As soluções que os nossos dirigentes encontram são sempre as mesmas. A crise é permanente, as soluções já testadas e aplicadas mantêm a crise, alimentam a crise, castram a inovação e o desenvolvimento, matam as ideias de progresso, reduzem os povos a consumidores desqualificados, a cidadãos infelizes e tristes. Fizeram-se sessenta e oitos e vinte cincos, recentemente o planeta exultou com um D. Sebastião preto, Berlusconni paga 300.000 euros mensais à sua ex. Já não há mais paciência para o diálogo, para a compreensão, para a tolerância de ponto. O que me vai na alma é voltar a apetecer-me andar ao estalo, falar a palavra do pavé, anarquizar!

Leo ferre - Le Chien (live)

terça-feira, 11 de maio de 2010

A propósito de discursos de aeroporto militar

Para o Dalai Lama, a verdade é relativa. Perceber que não há axiomas inquestionáveis e tentar encarar as situações sob todos os ângulos, antes de tomar uma atitude, é fundamental. Mas leva o seu tempo e requer alguns exercícios. A mente humana teria a tendência de elevar as próprias ideias à condição de verdades inexoráveis. Diante de uma situação de discórdia, diz Dalai, o sujeito enche-se de argumentos que o levam a tomar determinadas atitudes a partir do seu ponto de vista unilateral, desconsiderando a trajectória dos outros envolvidos.

Rabindranath Tagore "faz" 150 anos

Um artigo de Amit Chaudhuri sobre Rabindranath Tagore

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A Europa não existe

Afinal a Europa não existe. Mesmo com este programa de 600 mil milhões de euros para apoiar os elos mais fracos desta suposta federação. O capital financeiro especulativo é a Europa. O Banco Central Europeu, o senhorio que nos faz subir ou descer a “renda” de casa é, afinal, uma entidade mítica. O BCE não pode emprestar dinheiro aos estados nem gerir um orçamento comum. O BCE empresta dinheiro aos especuladores que por sua vez o empresta aos estados com a selvajaria e o descontrolo conhecidos. E Portugal lá embarca nesta ficção dolorosa, reduz investimentos, vai aumentar os impostos, vai exportar cintos com mais furos que é a única coisa que se consegue vender nos países do Sul. A Europa é assim porque quer e porque os EUA querem. Porque não tem lideranças fortes. Porque se deixa conduzir por banqueiros de segunda e políticos de terceira. É uma ideia forte que enfraquece na adoração monoteísta do deus mercado. Cada vez é mais importante e vital que comecemos a diversificar. Ainda não queremos ser todos alemães.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Indicadores fiáveis

A publicidade é um dos melhores indicadores do estado de um país e representa a forma mais apurada de comunicação marketing/venda/persuasão/informação. Pelo exemplo que vemos temos que considerar que o estado do país é deplorável.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Manobras de Maio

Apoio a visita de Bento XVI. Habitualmente só nos visitam estrelas pop mais ou menos decadentes, actores de telenovela chungas e um ou outro chefe de Estado. Desta vez as nossas forças de segurança vão tirar a barriguinha de misérias. Cerca de 8000 agentes, segundo o Público, vão segurar a visita de 4 dias. São umas manobras como já não se viam há muito tempo. Desenferrugar o armamento, retirar caixotes do lixo por causa das bombas, autuar os carros estacionados nas ruas do percurso, tomar atitudes de autoridade coisa já esquecida dos nossos polícias, excepto quando cortam cabeças no posto. Só lamento não podermos utilizar os novos submarinos na segurança de sua santíssima santidade. Será que não é possível colocá-los no Tejo, por detrás do púlpito inspirado por uma grande pedra, armados com uns mísseis Stinger de plástico só para as televisões?

quinta-feira, 8 de abril de 2010

...o pão nosso de cada dia nos dai hoje... não nos deixeis cair em tentação...

Quem acredita em homens com saiotes arrendados e saias púrpura e ouro? Homens que fizeram voto de celibato mas cujos olhos em transe se arrastam pelos corpos do rebanho à espera de uma oportunidade pecadora no recato da pia de água benta. Homens que se masturbam com chicotes em práticas medievais sado-masoquistas. Homens que dizem que dão a outra face mas que buscam a outra nádega. Que violam crianças inocentes e aterrorizadas com o poder da verga como se fosse um ceptro de sarça ardente e que espezinham a ignorância praticando a ignomínia. E são tantos os chamados pecadores e ainda mais os que os encobrem que está na hora de novo cisma neste caso entre a igreja e os homens. Que fiquem os homens e que os pedófilos e encobridores sejam realmente condenados à fogueira numa operação de castração a quente. Seria apenas mais um ritual de purificação. Já não se podem ouvir os senhores padres invocando argumentos corporativos. É de crime que estamos a falar e os criminosos, ainda que de saia e batina, devem bater com os costados na prisão. Com sorte e um bom advogado do diabo, serão perdoados da coroa de espinhos e da crucificação.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Unidose

Está-me a fazer uma certa urticária esta "complexidade" da impossibilidade de medicamentos em unidose. Como todos sabemos precisamos de duas aspirinas mas a caixa é de cinquenta e isto é válido para todos os medicamentos. Continuamos a pagar e a gastar alegremente recursos, energia, economia. Todos os argumentos são bons para termos verdadeiras farmácias em casa. É a única actividade humana em que as empresas não temem a concorrência doméstica. Viajo já há alguns anos pela Ásia e pelo menos desde há vinte anos, os países da Ásia do Sul resolveram o problema. Pois bem os laboratórios vendem caixas de cem, ok nós separamos em pequenos conjuntos de dez. Os próprios médicos na sua receita indicam o número de comprimidos a tomar e é isso que se compra nas farmácias sejam elas de medicina tradicional ou alopática. Mas está claro que estamos a falar de países apenas em vias de desenvolvimento onde estas práticas bárbaras são admissíveis. Tendo em conta que vivemos em sociedades com a paranóia da higiene e da segurança não se imagina que um farmacêutico possa vender pequenas doses, retiradas da grande caixa, fora de prazo ou sem todos os cuidados de higiene. Por isso parece-me simples esta questão: não vale a pena conversar com os laboratórios vinte anos para que alterem a linha de fabrico...abram as caixas porra!

quarta-feira, 31 de março de 2010

Primeiro de Abril

Não, a imprensa não foi inteligente, devia ter guardado as notícias dos submarinos para o primeiro de Abril. E as notícias de padres pedófilos e as notícias da inércia paquidérmica de Jaime Gama, as notícias do chumbo do orçamento da CML são todas notícias de primeiro de Abril. São, como se sabe, mentiras reais cuja publicação fora de época não ajuda nada o cidadão a compreender o Mundo.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Babel

Acabo de chegar da sarkolândia onde os teclados são “azert”, mais ou menos a mesma filosofia que as medidas inglesas. Escrever em “azert”, mal sabem os franceses, aproxima-nos do Acordo Ortográfico Luso Brasileiro ou melhor, leva-nos a escrever bastantes brasileirices porque não encontramos quer os acentos, quer as letras no sítio. Por isso optei por esperar até alcançar um teclado “qwert”, genuinamente português. Não critico os azertianos que dizem à boca pequena — the key board c’est nous — enquanto pronunciam várias onomatopeias divertidas que tornam a escuta num passeio num rio com ondas, ouiiiã! Sarko e a sua maioria levaram uma forte bordoada nas primeira e segunda voltas das eleições regionais que terminaram Domingo passado. Mas para Sarko, qual azert, l’état c’est moi! Já estava com saudades de olhar a fonte cinética de Niki de Saint Phalle cujas águas reflectem a “refinaria” de Beaubourg; de tomar um panaché (aqui ainda não se diz Pinochet) et pour cause, num café próximo da Bastilha; de saborear um kir como aperitivo ouvindo a conversa banal das manhãs ociosas; de me emocionar com a morte de Jean Ferrat que dizia como Aragon que a mulher é o futuro do Homem. Et que sont belles les femmes, mesmo no presente! Paris ainda é uma Babel que nos ilude como se todo o Mundo que ouvimos nas ruas, estivesse em paz e harmonia, houvesse justiça e equilíbrio, ninguém morresse de solidão nos parques onde despontam as primeiras flores da Primavera.

quarta-feira, 10 de março de 2010

O mais alto magistrado da banalidade

O entrevistado esteve bem para a entrevistadora; a entrevistadora esteve bem para o entrevistado. Banalidades, lugares comuns, o povo e o PR são serenos. Viva Portugal!

quinta-feira, 4 de março de 2010

terça-feira, 2 de março de 2010

segunda-feira, 1 de março de 2010

Harahari

Gravura em madeira representando Xiva e Vishnu, divindades das mais importantes do panteão hindu.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Desemprego

Recebi um documento dos CTT para ir desalfandegar uma encomenda da Índia: 3 pequenos livros. Lá fui a Cabo Ruivo, dirigi-me ao balcão e a funcionária diz-me para recolher as senhas B e C. Assim fiz e encaminhou-me para outro balcão para entregar a senha C e o documento que trazia comigo com o custo dos livros. Verificação, agrafe, carimbo e indica-me o balcão onde tinha estado anteriormente. Entreguei então a senha B, nova verificação mais carimbo e pede-me para recolher a senha A enquanto chama um funcionário para procurar a minha encomenda. Espero no guichet da senha A, vem uma outra funcionária que me pede o BI e que escreva, em letra legível, o meu nome — assinatura não, o nome bem legível! Ok digo eu e assim faço. Mais um carimbo, toca uma campainha e diz-me para me dirigir ao guichet do lado. Lá vem vindo outro funcionário do fundo do armazém, verifica o meu papel e entrega-me, finalmente a minha encomenda. Devo dizer que me recuso a acreditar em estatísticas. Não há desemprego em Portugal.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Bombay 2

" India was always a collection of communal and cultural identities; our hope lies in the strengthening of them, not in their dilution into some imagined 'Indianness'. If I know who I am, I'm going to be confident enough, secure enough, not to fear and hate those who I'm not. It's only when my self-definition is in question that I'm going to be anxious, to seek to establish the bounderies between Self and the Other, to riot and to burn."
Fragmento de entrevista a Suketu Metha autor de Maximum city: Bombay lost and found, recolhida por Shoma Chaudhury editora da revista Tehelka.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Bombay 1

"If you are late for work in the morning in Bombay, and you reach the station just as the train is leaving the platform, you can run up to the packed compartments and you will find many hands stretching out to grab you on board, unfolding outwards from bodies like petals from a flower. As you run alongside the train, you will be picked up and some tiny space will be made for your feet on the edge of the compartment. The rest is up to you; you will probably have to hang on with your fingertips on the door frame, being careful not to lean out too far lest you get decapitated by a pole placed too close to the tracks.
But consider what has happened: Your fellow passengers, already packed tighter than cattle are legally allowed to be, their shirts already drenched in sweat in the badly ventilated compartment, standing like this for an hour, retain an empathy for you, know that your boss might yell at you or cut your pay if you miss the train, and will manufacture space where none exists to take one more person with them. And at the moment of contact, they do not know if the hand that is reaching for theirs belongs to a Hindu or a Muslim or Christian or Brahmin or untouchable, or whether you live in Malabar Hill or New York or Jogeshwari. You're trying to get to work in the city of gold, and that's enough. Come on board they say. We'll adjust"
Fragmento de entrevista a Suketu Metha autor de Maximum city: Bombay lost and found, recolhida por Shoma Chaudhury editora da revista Tehelka.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Claustrofobia democrática asfixiante

Estou aqui mesmo preocupado com a liberdade de expressão! Coitadita da Manuela Leite que a esta hora estará quase asfixiada, sendo salva, in extremis, pelo profundo conhecimento de primeiros socorros de Paulo Rangel; conhecimento adquirido durante o 25 de Abril o que lhe permitiu salvar várias pessoas de morrerem asfixiadas em demasiada liberdade. Tenho também muita pena de Felícia Cabrita, Manuela Moura Guedes entre outros exemplares jornalistas, estiolando ao Sol, a voz seca de tanto gritar pela liberdade de expressão, o corpo já infestado de vermes torturadores e repressivos. A pena, seca de tanta perseguição, molhada no próprio sangue para construir a notícia livre e imparcial. Eu próprio estou com receio de publicar este post, não vá o tenebroso controlador português, mandar-me prender no minuto seguinte. Apesar de tudo acho que vou arriscar, é apenas um blogue!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Presidenciais

“Mas há sempre uma candeia dentro da própria desgraça, há sempre alguém que semeia trovas no vento que passa”. Este verso de Manuel Alegre poderia servir muito bem para mote da candidatura de Fernando Nobre à presidência da República. Como poderia servir de mote a mais uma campanha de solidariedade na resolução de mais uma qualquer catástrofe onde o médico Fernando Nobre desempenha, sempre, um papel crucial. Há quem diga que esta candidatura de Fernando Nobre é uma acção velada da eminência parda Mário Soares. Sabendo-se como funciona a cabeça de Mário Soares, é plausível que possa ser assim. O PS fica, deste modo, aliviadíssimo por não ter que apresentar uma candidatura Leliana ou Caniana, apoiando objectivamente a  reeleição de Cavaco Silva. Mas a “aparição” de Fernando Nobre nesta cena politica introduz novos dados. Sabemos que é uma personalidade impoluta, leal às causas do Homem, solidário, combativo. Mal acomparado, é como os jogadores de futebol que concorrem às câmaras municipais. O mediatismo do chuto na bola ilude-os e fá-los crer habilitados a desempenhar cargos públicos. Claro que Fernando Nobre não é o CR9 mas o campo da política não é um campo de refugiados e receio que iremos trocar um Homem Bom por um político medíocre. Ficarão alegres Soares e Cavaco.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Avatar sem final feliz

Nas florestas indianas de Orissa, bem longe de Hollywood, os Dongria Kondh, lutam para preservar o seu espaço sagrado e vital.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Morte de uma língua velha de 70 000 anos

Com a morte do último falante de Bo uma língua das Ilhas Andaman, Índia, desaparece igualmente esta língua velha de 70 000 anos. É a confirmação do relatório da Unesco que alerta para o risco de desaparecimento de 2500 línguas.

Exercício corporal

"Há aqui uma história de mãos. Trata-se dos terríveis trabalhadores rimbaldianos que trabalham o pesadelo. Têm o primeiro dia da sua criação, e nele colocam uma negra rosa de ferro. Têm o segundo dia, e há a explosão de um minério obscuro, ainda que ardente. No terceiro dia da sua tenebrosa tarefa, eles levantam do abismo um peixe desaforado. E no quarto dia, no quinto, e no sexto dia da sua atormentada criação, vão martelando com uma paciência cruel as demoníacas máquinas do sonho. E no sétimo dia eles contemplam a sua obra, e não sentem contentamento. O sétimo dia está cheio, desde o fundo, daquele feroz martelar, que é o martelar do coração sombrio onde o sangue é violento. Sai-lhes das mãos uma geometria difícil que não dá paz. E então, porque o tempo de expor o exemplo inquietante não se pode esgotar, os horríveis trabalhadores inventam o oitavo dia, que é como a eternidade. O espírito de Deus não se move sobre as águas. Este oitavo dia da criação é um espaço ilimitado de trevas onde um pássaro voraz abre as asas inesgotáveis. E então a gente sabe que a alegria e a beleza são coisas dolorosas."
Herberto Helder, exercício corporal I in Poesia Toda

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Com tensão

Senhor Governador do Banco de Portugal dê o exemplo das fortes medidas de contenção que apregoa e institua-se a si próprio e aos seus pares, um pequeno imposto indirecto que consistiria, por exemplo, num corte anual dos vossos salários em 30%. Sabemos que não é isso que vai reduzir o défice mas seria um pequeno exemplo de moral e de higiene política. Além do mais os salários dos altos quadros do Banco de Portugal ficariam mais equiparados aos dos congéneres mundiais.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

sábado, 30 de janeiro de 2010

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Do portanto ao naturalmente

Há uns anos a muleta preferida na linguagem dos portugueses era o portanto, bela e assertiva preposição. Dava força à linguagem militante e era, em si própria, conclusiva, portanto, apontava o caminho. Mesmo nos discursos inconclusivos ela concluía, imperial. Hoje, naturalmente, as coisas mudaram. Surgiu naturalmente, o naturalmente. Advérbio inter-classista, ele é emitido, naturalmente, por políticos, deputados, taxistas, politólogos, comentadores vários, treinadores, electricistas, novos ricos, entre outros. Culturalmente é importante esta identificação à volta de um advérbio tipo selecção nacional e podemos dizer que, naturalmente, é mais importante aquilo que nos une do que aquilo que nos divide. Além do mais na sua raiz está o substantivo natural, substantivo naturalmente ecológico e, por enquanto, sustentável. Direi que naturalmente é o avatar dos advérbios, portanto, um advérbio verde, com preocupações ambientais, pleno de potencialidades e de futuro. Longa vida, portanto, ao naturalmente.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Maré alta


Paliçada pós-tsunami na costa do Coromandel, Índia.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Futurologia

A eleição de Manuel Alegre como presidente da República, fecha um ciclo político em Portugal. Assim, a partir de 2015, mas já perceptível hoje, vamos ser um país totalmente previsível. Quarenta anos depois do 25 de Abril já não se poderá falar de jovem democracia portuguesa. Aos quarenta anos as mulheres e os homens estarão, eventualmente, aptos a tomarem decisões importantes. Aos quarenta anos a democracia portuguesa estará carente de valores, de ideais, de gente superior. Políticos de qualidade mediana sem visão nem rasgo, funcionários exemplares que terão sido estudantes igualmente exemplares, aplicados, devotados ao partido e à progressão na carreira, ocuparão o espaço botox e siliconado dos vários areópagos onde se ouvirão discursos tecnocráticos e debotados. A ruga precoce dará credibilidade a ideias ocas. A política vai perder élan e a citação de algumas frases revolucionárias será mera história antiga.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Apocalypse now

Do Haiti apenas conheço histórias verdadeiramente cruéis de Ton Ton Makutes, a cara da criança crioula de cabelo amarelo olhos da cor da esperança do mar das Caraíbas, o riso franco à volta da comida e o cheiro da dança. São memórias antigas de estrangeirados que fizeram un bout de chemin ensemble. Hoje, já não consigo ver as imagens dos vários aprendizes de CNN. Vai ser mais uma narrativa audiovisual da catástrofe: as tentativas para salvar os soterrados em close-up; as entrevistas com as várias organizações de ajuda humanitária; a reportagem “em exclusivo” do trabalho das organizações; uma qualquer raridade de alguém que, ao fim de 10 dias, felizmente se salvou; os vários planos dos olhos inesquecíveis de quem falou com a morte. Mas, pergunto-me, como será abraçar um haitiano e dizer-lhe meu irmão a tua é a minha dor, toma as minhas lágrimas e mata com elas a tua sede.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A ferida democrática

O jornal Público informa que o porta-voz da Conferência Episcopal considera que a aprovação da legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo pelo Governo e pelo Parlamento foi uma precipitação e que a ausência de um referendo sobre a matéria abre "uma ferida democrática".
Senhores bispos ponderem e aprofundem o tempo que precisarem sobre a pedofilia nas vossas fileiras mas não se metam em assuntos ímpios e mundanos. Essa da ferida democrática não lembraria nem a Pio XII.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Kumba Mela


Decorre este ano uma das maiores manifestações do homem neste planeta, a Kumba Mela. Astrologicamente este evento ocorre de doze em doze anos quando o planeta Júpiter entra em Aquário e o Sol em Carneiro.
Segundo os hindus é uma peregrinação para a purificação. Este ano Haridwar, uma das cidades sagradas da Índia, é o centro do acontecimento. Aí vão confluir as águas do rio Ganges e milhões de peregrinos e de ascetas. É um acontecimento verdadeiramente extraordinário e profundamente humano. Mais informação aqui.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Sobre a verticalidade

"Os bravos aguentam a pé firme, as árvores aprendem com eles a erguer-se".
Abu-F-Fazl in Akbar Námá