"Há aqui uma história de mãos. Trata-se dos terríveis trabalhadores rimbaldianos que trabalham o pesadelo. Têm o primeiro dia da sua criação, e nele colocam uma negra rosa de ferro. Têm o segundo dia, e há a explosão de um minério obscuro, ainda que ardente. No terceiro dia da sua tenebrosa tarefa, eles levantam do abismo um peixe desaforado. E no quarto dia, no quinto, e no sexto dia da sua atormentada criação, vão martelando com uma paciência cruel as demoníacas máquinas do sonho. E no sétimo dia eles contemplam a sua obra, e não sentem contentamento. O sétimo dia está cheio, desde o fundo, daquele feroz martelar, que é o martelar do coração sombrio onde o sangue é violento. Sai-lhes das mãos uma geometria difícil que não dá paz. E então, porque o tempo de expor o exemplo inquietante não se pode esgotar, os horríveis trabalhadores inventam o oitavo dia, que é como a eternidade. O espírito de Deus não se move sobre as águas. Este oitavo dia da criação é um espaço ilimitado de trevas onde um pássaro voraz abre as asas inesgotáveis. E então a gente sabe que a alegria e a beleza são coisas dolorosas."
Herberto Helder, exercício corporal I in Poesia Toda
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário