quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Do portanto ao naturalmente

Há uns anos a muleta preferida na linguagem dos portugueses era o portanto, bela e assertiva preposição. Dava força à linguagem militante e era, em si própria, conclusiva, portanto, apontava o caminho. Mesmo nos discursos inconclusivos ela concluía, imperial. Hoje, naturalmente, as coisas mudaram. Surgiu naturalmente, o naturalmente. Advérbio inter-classista, ele é emitido, naturalmente, por políticos, deputados, taxistas, politólogos, comentadores vários, treinadores, electricistas, novos ricos, entre outros. Culturalmente é importante esta identificação à volta de um advérbio tipo selecção nacional e podemos dizer que, naturalmente, é mais importante aquilo que nos une do que aquilo que nos divide. Além do mais na sua raiz está o substantivo natural, substantivo naturalmente ecológico e, por enquanto, sustentável. Direi que naturalmente é o avatar dos advérbios, portanto, um advérbio verde, com preocupações ambientais, pleno de potencialidades e de futuro. Longa vida, portanto, ao naturalmente.

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