sexta-feira, 26 de agosto de 2011
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Poema de Nizar Qabbani a propósito da Síria
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quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Mediterrâneo
Do Mediterrâneo dizem que é mar interior, sopa da nossa cultura, cenário de barcos incendiados, tesouros afundados, experiências científicas, cadinho de línguas. Neste lago euro-afro-asiático cavalgaram califas e cruzados.
O sangue pingou das cimitarras e tantas cabeças infiéis rolaram na construção dos templos. Fogueiras de fé incendiaram o Cosmos e a Terra ficou estática à roda do Sol. Santos ofícios e santos óleos ungiram a utopia e escorreram pelos telescópios precários empapando as margens. Pés na água, muitos contemplaram despedidas de astrolábio. A álgebra atravessou o deserto nas infindáveis caravanas. Comércio e contas, contos à noite no crescente. De um lado crepitam escorpiões na areia. Na outra margem moinhos imaginários escrevem no céu das letras. O Mediterrâneo assistiu à queda de impérios. O Mediterrâneo assiste à queda de novos impérios.
As novas Bagdade, as novas Damasco, cidades douradas da margem Norte, atraem e afogam, pelo caminho, os filhos do Sul. Este grande rio do Mundo está povoado de semelhantes e de iguais que se entreolham em cada margem. A oliveira do Norte estende os braços para a sua irmã plantada num pátio que cheira a jasmim e de onde se ouvem os tambores de água. Derviches dançam numa Constantinopla de pé até que o Sol se ponha no estreito de Gibraltar. O chá fumega na tenda berbere indiferente às taxas de juro e o kefir atravessa a água para descansar numa prateleira colorida de grande superfície. Cheira a laranjas neste mar. Em Gaza come-se mal e os tanques na Síria esmagam impiedosamente todas as revoltas, todas as utopias, todos os prazeres. Estrangeiros continuam a ocupar Bagdade onde já não canta Om Kolthom. Os barcos afundados deste rio-mar perderam a voz e são incapazes de reconstituir as histórias de vida e do mundo que nos atravessaram. As que nos lembramos, temos tendência a esquecer rapidamente e a substituir por histórias de frio e neve, auroras boreais de Europa, ausência de especiarias. Voltámos as costas ao mar que nos viu nascer, tememos o véu e o hijab, o nossos muezins moram em Berlim e Washington mas, apesar de escreverem da esquerda para a direita, temos dificuldade em entendê-los. Voltámos as costas ao mar que nos viu nascer e queremos, à força, ser outra coisa, outra natureza e, deste modo, infelizes e aculturados, somos como um emigrante interior perdido dentro da sua natureza ausente. Procuramos referências nos modelos culturais anglo-saxónicos mas nem a nossa cabeça, nem a nossa pouca racionalidade se adequam a estas práticas socioculturais. Achamos que estes desajustamentos são produto de uma jovem e imatura democracia porque nos recusamos a ver mais além, mais fundo, mais próximo da margem do nosso mar. Não nos importa sermos tão parecidos com os gregos, com argelinos ou turcos, não reflectimos que gostamos de coisas muito parecidas, de paladares comuns. Nem pensamos como é possível estarmos noites a conversar mesmo não falando as mesmas línguas, noites de água luar onde o crescente é, apenas, uma fase da Lua. Agora olhamos os nossos vizinhos como os outros, aqueles que nos vêm tirar o trabalho, aqueles, os terroristas, os novos infiéis, impuros e sujos. Apoiámos a “revolução” árabe, de longe é certo mas apoiámos. Aprendemos novos nomes de ditadores e de libertadores, nomes de pronúncia difícil mas que fixámos e reproduzimos no café com os amigos e demos opiniões fortes e decisivas sobre a “revolução” árabe. Vimos Rossios no Cairo e em Damasco e sorrimos com um sorriso fraterno. Falta-nos a música que é o esperanto deste Mediterrâneo. Oiçamo-la tocar.
texto publicado no DN
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
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