Montserrat Figueras era uma das músicas deste Mediterrâneo. Calou-se para sempre a sua voz catalã que atravessava o hebraico e o árabe, trazia os perfumes até à Ibéria, voz margem deste mar de infinita compreensão, de infinito sorriso quando os sons de Saval compõem melodias nos terraços de Jerusalém. Uma lágrima pela Síria escorre pelos ouds, uma mão no coração saúda os votantes egípcios e marroquinos, um azedume contamina a opinião sobre a Líbia. Marrocos já votou. O Egipto já votou. A Tunísia já votou e aí são presos e perseguidos ateus. Khadafi foi executado como se esperava. Uma parte da Europa banha-se no Mediterrâneo mas, como aqueles turistas que voltam as costas ao mar e fazem piqueniques que deixam lixos nas poças entre as rochas, assim esta Europa continua a olhar para Berlim enquanto a Grécia arde e morre desistindo de uma vida escrava. O fantasma de Fídias vagueia assustado pelas colunas do Parténon enquanto troikas incultas e predadoras ditam as novas e espartanas leis. Corre o slogan de que somos todos gregos e esta voz atravessa as margens do nosso mar e transporta este mantra infeliz pelas areias de todos os desertos. Jihads espreitam o rigor das práticas religiosas ou o cumprimento de todos os défices. A dívida pública tornou-se no novo Alcorão e novas bibliotecas de Alexandria aguardam em pânico os incêndios que se avizinham, inelutáveis. Os economistas deste mar tornaram-se tementes de Deus e oferecem-se em demorados sacrifícios nos plateaus da fama efémera, carpindo as tábuas da contabilidade. Este mar, ara de sacrifícios dos povos da margem vai ficar, em breve, coalhado e vermelho. Somos todos gregos sim e queremos voltar a ver tirremes coloridas e sonoras sulcando o mar e outras vozes e outras línguas gritadas da outra margem para que acordemos deste torpor esclerótico europeu.
segunda-feira, 9 de abril de 2012
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