República da Transtuk-tuklândia, em fase de homologação pela
ONU. (Corre o boato que nem Guterres votará a favor da sua constituição, caso
seja eleito secretário-geral.
Presidente Medina, vice-rei Salgado, Bobo Miguel Coelho, o
Maior.
Na república da Transtuk-tuklândia uma bola de gelado custa
2,20€, mais caro que em Berlim mas com o flavour do Tejo e do novo terminal de
cruzeiros. Terminal é a palavra adequada, porque é a fase em que está a entrar
a república da Transtuk-tuklândia, ainda antes da sua formação. Na
Transtuk-tuklândia os arrumadores desceram ao coração da cidade, arrumadores
verdadeiros, daqueles que riscam os carros dos moradores, bandidos mesmo.
Diferentes dos arrumadores das avenidas novas da referida república que são
apenas heroinómanos. Na Transtuk-tuklândia tudo é gourmet: duas assoalhadas
gourmet; dourada de aviário gourmet; pastel de bacalhau com um risco artístico
de groselha, gourmet. Santo António benze viaturas, pessoas, imperiais. Na
Transtuk-tuklândia há um outro flavour do sagrado, basta ouvir as explicações
históricas, em diversas línguas dos tuk-tuk drivers, o verdadeiro motor
económico da Transtuk-tuklândia. Na Transtuk-tuklândia os polícias municipais,
uma espécie de guarda do Vaticano, melhor, os gordos polícias municipais estão
dedicados ao estacionamento. Tudo o resto não lhes interessa minimamente. A
multazinha já cá canta diz o PM no seu smartphone à amante, provavelmente
lavadeira de roupas frequentadas por holandeses. O PM, com um vistoso colete
verde fosforescente, faz vista grossa (uma característica única da
Transtuk-tuklândia), a tudo o que não seja o carrito fora do lugar. Na
Transtuk-tuklândia já não há moradores: há pessoas que prestam serviços a
turistas que, habitualmente, deixam as garrafas das bejekas nas esquinas das
ruas. (Que o digam os esforçados trabalhadores da Junta). Na Transtuk-tuklândia
já quase não há casas. A urbanização é do tipo Airbnb, chão flutuante,
materiais foleiros, recuperações duvidosas, pladur à fartazana. A joint venture
Pladur- Transtuk-tuklândia que muito agrada ao Salgado tem a benção do Santo de
serviço e dos patos bravos, agora mais mansos. Na Transtuk-tuklândia o fado é
que induca e o vinho é que instrói, dizia-se. Esta grande máxima foi finalmente
corrigida e agora reza assim: na Transtuk-tuklândia o futebol é que induca e a
sangria é que instrói.