quarta-feira, 11 de abril de 2018

Flores do deserto

 
O que eu queria era deitar-me contigo e, no silêncio do teu corpo magro, cheirar as flores do deserto.
Ouvir e dar a importância à luz, ao tempo, à lentura de dias apanhados nos arbustos espinhosos, pousar a água na boca, ir por estrelas desconhecidas, ouvir a língua branca do lagarto, alguma areia risca os abraços e percorrer trilhos invisíveis debaixo da escarpa das constelações.
Na noite, na manhã, pelos dias…

Cheirar as flores do deserto, um oásis perfumado de rios do corpo, entrei. Gotas brancas marcam o território, a doçura da areia convida à suspensão do tempo, ao afago.
Afilamentos de dedos conduzem os olhos e a língua.
Esvai-se o dia e não  sabemos se à noite há caminhos ou, as estrelas, vão brincar sozinhas no azul disponível.

Cada caminho, um tamanho de caminho e queremos apanhar a boleia das corças. Há trilhos possíveis no ar saturado de incenso.
Amadurece o trópico noutros lugares.
Ainda noutros lugares meias vestem a pele, a mão tropeça no despir. Acrescentamos mar ao pensamento e tanta água por dizer.
Faz-se silêncio de murmúrios e cheiro-te deitado no
miradouro do corpo.

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