sexta-feira, 2 de março de 2012

Estatísticas


Os velhos morrem. Os velhos morrem o dobro do que costumam morrer. Os velhos inquietam as estatísticas que serão analisadas por uma bateria de não-velhos. Os resultados serão publicados daqui a uns meses quando mais velhos terão morrido fora ou dentro do previsível. Num pais de cravos não haverá flores nestas valas comuns.  Seis mil flores mal empregadas, dirão, para quem ia morrer de qualquer maneira. Não há discurso, programa de partido, discussão na Assembleia, feriado abolido que resista a esta solidão, a esta doença não tratada, a este frio pelos frágeis ossos acima, a este definhar escondido e envergonhado. É um número simbólico, murro no estômago de um pais merdoso que é o nosso. É um número triste que destrói definitivamente qualquer argumento elegante e pseudo-científico. É um número frio, matematicamente puro, inexorável. É um número de uma clareza estonteante, um retrato à la minuta do caminho que percorremos durante décadas. Chegámos aqui, engravatados e europeus, corruptos, austeros, turistas em Santa Comba. Que nojo!

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