Os velhos morrem. Os velhos morrem o dobro do que costumam
morrer. Os velhos inquietam as estatísticas que serão analisadas por uma
bateria de não-velhos. Os resultados serão publicados daqui a uns meses quando
mais velhos terão morrido fora ou dentro do previsível. Num pais de cravos não
haverá flores nestas valas comuns.
Seis mil flores mal empregadas, dirão, para quem ia morrer de qualquer
maneira. Não há discurso, programa de partido, discussão na Assembleia, feriado
abolido que resista a esta solidão, a esta doença não tratada, a este frio
pelos frágeis ossos acima, a este definhar escondido e envergonhado. É um
número simbólico, murro no estômago de um pais merdoso que é o nosso. É um
número triste que destrói definitivamente qualquer argumento elegante e
pseudo-científico. É um número frio, matematicamente puro, inexorável. É um
número de uma clareza estonteante, um retrato à la minuta do caminho que
percorremos durante décadas. Chegámos aqui, engravatados e europeus, corruptos,
austeros, turistas em Santa Comba. Que nojo!
sexta-feira, 2 de março de 2012
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