A paisagem parou no meio da batalha do imperador Radjaradja com as tribos da montanha. A nuvem de poeira começava a assentar
e, no horizonte amarelo, desenhava-se, lentamente, o templo de
Gangaikondacholapuram. A sombra das acácias refazia-se no solo, a pedra do templo avermelhava a tarde.
O imperador despiu a armadura, surpreendido por não estar a ser assistido nesta operação pelos seus escravos, ainda para mais tendo ganho, supunha ele, a batalha.
As pesadas peças de protecção do corpo, a espada e o elmo
descansavam na poeira. Radjaradja, olhou em volta,
chamou os capitães, os criados. A voz ecoava na pedra
de Gangaikonda juntamente com o coro desafinado
de corvos e macacos. Percebeu que estava só e,
que o templo que agora via, apenas o tinha imaginado
antes da batalha, não podia estar ali.
Contornou as pedras, subiu os degraus,
confrontou-se com Surya e Vixnu nas paredes laterais.
Voltou a chamar os seus capitães e gritou bem alto
pelos criados, mas nada. A voz reverberava nas pedras
como um mantra infinito e recorrente.
Radjaradja sentou-se e resolveu meditar
como lhe tinha ensinado o seu mais querido mestre.
Concentrou-se na respiração e no mantra,
inspirou, expirou, inspirou...a batalha estava brava,
o suor toldava-lhe a visão.
Conseguiu apenas adivinhar o silvo de uma flecha
e uma dor lancinante atravessou-lhe a garganta
impedindo-o de gritar. Os olhos pararam a paisagem
e o silêncio invadiu os horizontes de Gangaikonda,
enquanto a pedra vermelha se desfazia em pó
lento e inexorável e as estátuas desapareciam
diante dos olhos já líquidos do imperador.
Um século mais tarde, no local da batalha, iniciou-se a construção
difícil e demorada de Gangaikondacholapuram.
Várias equipas de canteiros abandonaram o local
ao longo dos anos em fuga aterrorizada.
Diziam ouvir mantras dentro das pedras
e uma respiração cadenciada como a de quem medita.
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