Há muitos, muitos anos, havia o bom povo português, cinzento, submisso, analfabeto que pouco se indignava, valha a verdade, com o contexto e a condição em que vivia.
Agora, assistimos paulatinamente às novas conversas em família onde, políticos, politólogos, comentadores vários nos apresentam a banalidade e os segredos de Estado, servidos a frio, numa bandeja de alumínio; não nos incomoda que o Sr. Presidente da República, a mais alta figura do Estado (vá-se lá saber o que isto quer dizer), comunique via Facebook qual adolescente púbere que acabou de descobrir as maravilhas da vida virtual; reagimos estáticos à mensagem pascal do novo oráculo do qual dizem que é uma pessoa com quem se pode conversar; assistimos às intervenções lunáticas de uma esquerda que não percebe realmente o papel criminoso que desempenha nesta história; substituímos o cinzento pelo beije e pelo verde dito sustentável e pagamos os produtos bio como se fossem de luxo dando grande ênfase científico à permacultura, coisa que sempre foi feita pelos pequenos agricultores que trabalham a terra; deixámos de ser submissos mas continuamos à rasca ou calados fora do café; analfabetos já não somos de facto, somos sim quase todos proprietários endividados que lidam muito bem com a dívida do estado, com os salários milionários, com a injustiça da justiça; continuamos a não nos indignar mantendo uma continuidade cultural sólida, profunda e transversal à sociedade; continuamos a não discutir a pátria e a autoridade mas discutimos, cada vez mais, Jesus, já não é mau. Uma parte do título deste post, 25 de Abril de 1974 é história antiga e é compreensível que assim seja: a velocidade dos acontecimentos aumentou muito desde então, a própria noção do nosso tempo interior também mudou e, estes anos assentaram em cima de uma cultura presa a fundos preconceitos e ancestralidades fatais que a pós-modernidade deixou incólumes. Talvez com o método científico de datação pelo Carbono 14 consigamos ter uma aproximação histórica mais precisa e informada. Ficaria bem, para acabar, um 25 de Abril Sempre mas, depois de ouvir o Otelo dizer que se soubesse que era para isto não o teria feito e que precisamos de uma personalidade com a inteligência de Salazar, acho que as palavras deixaram de ter significado e está instalado o vazio — que é o espaço ideal para quem medita.
Fernando,
ResponderEliminarParabéns, meu amigo! Grande texto! ... sem encontrar, neste momento, as palavras certas, farei link no dia 25 de Abril de 2011.
Para que se não esqueça e se mantenha aberto o discernimento!
Obrigado!
Um grande, grande e solidário abraço.
Obrigado a amargura inspira! Abraço forte.
ResponderEliminarJá lá está, Fernando... como a Meditação, 37 anos depois do "Portugal Ressuscitado"...
ResponderEliminarAbraço forte.