domingo, 24 de abril de 2011

25 de Abril de 1974: datação pelo Carbono 14

Há muitos, muitos anos, havia o bom povo português, cinzento, submisso, analfabeto que pouco se indignava, valha a verdade, com o contexto e a condição em que vivia.
Agora, assistimos paulatinamente às novas conversas em família onde, políticos, politólogos, comentadores vários nos apresentam a banalidade e os segredos de Estado, servidos a frio, numa bandeja de alumínio; não nos incomoda que o Sr. Presidente da República, a mais alta figura do Estado (vá-se lá saber o que isto quer dizer), comunique via Facebook qual adolescente púbere que acabou de descobrir as maravilhas da vida virtual; reagimos estáticos à mensagem pascal do novo oráculo do qual dizem que é uma pessoa com quem se pode conversar; assistimos às intervenções lunáticas de uma esquerda que não percebe realmente o papel criminoso que desempenha nesta história; substituímos o cinzento pelo beije e pelo verde dito sustentável e pagamos os produtos bio como se fossem de luxo dando grande ênfase científico à permacultura, coisa que sempre foi feita pelos pequenos agricultores que trabalham a terra; deixámos de ser submissos mas continuamos à rasca ou calados fora do café; analfabetos já não somos de facto, somos sim quase todos proprietários endividados que lidam muito bem com a dívida do estado, com os salários milionários, com a injustiça da justiça; continuamos a não nos indignar mantendo uma continuidade cultural sólida, profunda e transversal à sociedade; continuamos a não discutir a pátria e a autoridade mas discutimos, cada vez mais, Jesus, já não é mau. Uma parte do título deste post, 25 de Abril de 1974 é história antiga e é compreensível que assim seja: a velocidade dos acontecimentos aumentou muito desde então, a própria noção do nosso tempo interior também mudou e, estes anos assentaram em cima de uma cultura presa a fundos preconceitos e ancestralidades fatais que a pós-modernidade deixou incólumes. Talvez com o método científico de datação pelo Carbono 14 consigamos ter uma aproximação histórica mais precisa e informada. Ficaria bem, para acabar, um 25 de Abril Sempre mas, depois de ouvir o Otelo dizer que se soubesse que era para isto não o teria feito e que precisamos de uma personalidade com a inteligência de Salazar, acho que as palavras deixaram de ter significado e está instalado o vazio — que é o espaço ideal para quem medita.   

3 comentários:

  1. Fernando,
    Parabéns, meu amigo! Grande texto! ... sem encontrar, neste momento, as palavras certas, farei link no dia 25 de Abril de 2011.
    Para que se não esqueça e se mantenha aberto o discernimento!
    Obrigado!
    Um grande, grande e solidário abraço.

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  2. Obrigado a amargura inspira! Abraço forte.

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  3. Já lá está, Fernando... como a Meditação, 37 anos depois do "Portugal Ressuscitado"...
    Abraço forte.

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