Interrogo-me sobre a factura que os portugueses vão pagar às instituições que nos vão emprestar biliões de euros. Interrogo-me sobre a minha parte dessa factura e, sobretudo, porque é que eu vou ficar a dever dinheiro durante anos. Sempre trabalhei, sempre paguei os meus impostos, não pratico peculato nem tráfico de influências; os empréstimos que contraí estão pagos ou a caminho de o ser; paguei pontualmente todas as contas que me foram apresentadas nos hospitais, nas diversas empresas ou pessoas que me prestaram serviços; não recebi dinheiro por baixo da mesa nem pintei sacos de azul; tenho vivido alguma parte da minha vida no estrangeiro significando isso que não utilizo em igual percentagem os serviços públicos e, como tal, provoco menor desgaste; não gasto acima das minhas possibilidades nem recorro ao crédito para pagar estatutos de sol e praia em lugares exóticos ou para ter um sofisticado automóvel de dois em dois anos; nunca gastei mais do que aquilo que posso pagar. Daí a minha pergunta: mas o que é que eu devo? A quem devo? Porque devo? Se alguém fez mal as contas, corrompeu, geriu mal, não estudou nem teve visão para manter equilibrada e desenvolver a mercearia Portugal & Herdeiros que se chegue à frente. Eu como cidadão não devo nada a ninguém e não quero pagar o que não devo: é um mau princípio.
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