Nos últimos vinte anos viajei, vivi e estudei na Índia.
A primeira vez, munido de um forte sentimento Ocidental,
achei que nunca mais regressaria a um país em que nada funcionava,
onde ninguém respeitava os horários e os compromissos,
onde o espaço próximo do corpo era continuamente devassado,
onde os aviões partiam antes da hora marcada, onde o calor transformava a pele numa chaga, onde se vivia rodeado de doença, miséria, sujidade ou opulência insolente, onde se dizia sim com a cabeça acenando não.
Depois tudo mudou e, despido de preconceitos, limitei-me a receber
aquilo que a Índia podia ou queria dar. Procurei entender e partilhar uma humanidade comum vertida no quotidiano com outros códigos e outros sinais, aparentemente tão distinta e tão longe da nossa racionalidade desinfectada.
Agora estou, de novo, aqui nas costas do Malabar.
Abro este blog a que chamei AyyapaExpress, com o Mar Arábico à ilharga.
Será um lugar de registo de impressões e sensações
pelos caminhos da Índia; rostos, paisagens, espiritualidades, imagens,
gestos breves, pedaços de memória que agora se organizam
deste modo para serem partilhados.
Namasté.