Caía a luz em Madras. Raju, seguido do irmão mais novo
quase bebé, chegou à porta do restaurante.
Nas mãos, a marmita vazia, no olhar, as ruas
da cidade madrasta.
Mediu os presentes e a situação
e teve uma ideia. Chamou o empregado lá fora e
propôs-lhe um negócio: Ele varreria as flores amarelas
de frangipani que cobriam o chão da esplanada,
o empregado encheria a marmita. O acordo fez-se
e Raju, olhos brilhantes pela maneira fácil
que encontrara para poder jantar, procurou
uma velha e esfarrapada vassoura atrás da árvore
e começou a limpar. Aos ziguezagues, volta atrás
vai à frente, ajudado pelo irmão com um ramo de árvore,
volta atrás vai à frente, lá chegou ao fim da tarefa.
Chamou de novo o empregado para mostrar o serviço
mas este, mão esticada, apontou os cantos ainda sujos.
Raju, sem largar a marmita, apanhou de novo a vassoura e,
mais rapidamente, varreu flores amarelas atrás de flores
amarelas para a rua. Satisfeito, arrumou a vassoura
e voltou a chamar o empregado. Veio outro empregado
que o mandou embora e ele explicou-lhe o contrato
que tinha feito com o colega. Este empregado olhou
o passeio com atenção e indicou mais umas quantas flores
amarelas que entretanto tinham caído.
Raju, marmita vazia na mão, repetiu velozmente a tarefa e,
olhando para a agora imaculada tijoleira vermelha,
deu por concluído o trabalho.
Arrumou a vassoura e, dando a mão ao irmão,
chamou o empregado.
Por cima dele um bando de corvos estridente
e espalhafatoso acabara de chegar à arvore das flores amarelas e,
por entre namoros e gritos, agita-se nos ramos
preparando-se para passar a noite.
A marmita de Raju enche-se de flores amarelas.
A marmita de Raju enche-se de flores amarelas e do vazio dos afectos. De mão dada com o irmão mais novo, no caminho sem fim de uma vida sempre desigual.
ResponderEliminarSó uma marmita cheia de flores amarelas pode enganar a negra fome ancestral.
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