quinta-feira, 28 de maio de 2009
Pushkar
Na areia do deserto, o quadrado de água.
Branco doce feito à mão abre-se em escadaria de sombra
sobre o som da tarde.
Fogo e corpos pintados marcam o fim do dia.
A montanha da cobra, desfaz-se da pele suada
para iniciar os rituais nocturnos.
Sobre a ponte, o colorido imaginado das caravanas de antanho.
Brahma e Savitri vestem-se de luz, o Cosmos recicla-se uma vez mais. Pushkar.
domingo, 24 de maio de 2009
Puri
Clara a linha que se traça aqui, em Puri,
entre este Oriente e este Ocidente.
Clara nos reflexos do Sol laranja
no short branco que desce a rua e os olhares
queimam a pele. No Café Harris, bancos corridos
e mesas verdes, exposição de livros na entrada,
desfilam francesas homossexuais amantíssimas,
uma mulher bonita de olhos tristes e gesto assustado,
um puto canadiano que acabou de telefonar à mãe,
vários magríssimos junkies, a que te quer comer
com os olhos e depois com os lábios,
péssimas cópias do trabalho do corpo hindu,
uma atónita família indiana, um casal
espanhol muito zangado com tudo,
várias confusões linguísticas a propósito do café black
ou não, duas ou três quarentonas à procura
da aventura final. Do outro lado da rua
desfilam os turistas indianos devotos de Hanuman.
Desembarcam aos seis de cada vez dos motoriquechós,
enchem o espaço de cor e sons agrestes.
Olhamo-nos mutuamente: o Café Harris
como mostra de produtos do Ocidente,
a porta do templo, o quotidiano deste Oriente.
É clara a linha de demarcação: apenas uma rua estreita,
paralela ao mar. A geografia confirmará
que o Café Harris se encontra do lado ocidental da rua.
entre este Oriente e este Ocidente.
Clara nos reflexos do Sol laranja
no short branco que desce a rua e os olhares
queimam a pele. No Café Harris, bancos corridos
e mesas verdes, exposição de livros na entrada,
desfilam francesas homossexuais amantíssimas,
uma mulher bonita de olhos tristes e gesto assustado,
um puto canadiano que acabou de telefonar à mãe,
vários magríssimos junkies, a que te quer comer
com os olhos e depois com os lábios,
péssimas cópias do trabalho do corpo hindu,
uma atónita família indiana, um casal
espanhol muito zangado com tudo,
várias confusões linguísticas a propósito do café black
ou não, duas ou três quarentonas à procura
da aventura final. Do outro lado da rua
desfilam os turistas indianos devotos de Hanuman.
Desembarcam aos seis de cada vez dos motoriquechós,
enchem o espaço de cor e sons agrestes.
Olhamo-nos mutuamente: o Café Harris
como mostra de produtos do Ocidente,
a porta do templo, o quotidiano deste Oriente.
É clara a linha de demarcação: apenas uma rua estreita,
paralela ao mar. A geografia confirmará
que o Café Harris se encontra do lado ocidental da rua.
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Gangaikondacholapuram
A paisagem parou no meio da batalha do imperador Radjaradja com as tribos da montanha. A nuvem de poeira começava a assentar
e, no horizonte amarelo, desenhava-se, lentamente, o templo de
Gangaikondacholapuram. A sombra das acácias refazia-se no solo, a pedra do templo avermelhava a tarde.
O imperador despiu a armadura, surpreendido por não estar a ser assistido nesta operação pelos seus escravos, ainda para mais tendo ganho, supunha ele, a batalha.
As pesadas peças de protecção do corpo, a espada e o elmo
descansavam na poeira. Radjaradja, olhou em volta,
chamou os capitães, os criados. A voz ecoava na pedra
de Gangaikonda juntamente com o coro desafinado
de corvos e macacos. Percebeu que estava só e,
que o templo que agora via, apenas o tinha imaginado
antes da batalha, não podia estar ali.
Contornou as pedras, subiu os degraus,
confrontou-se com Surya e Vixnu nas paredes laterais.
Voltou a chamar os seus capitães e gritou bem alto
pelos criados, mas nada. A voz reverberava nas pedras
como um mantra infinito e recorrente.
Radjaradja sentou-se e resolveu meditar
como lhe tinha ensinado o seu mais querido mestre.
Concentrou-se na respiração e no mantra,
inspirou, expirou, inspirou...a batalha estava brava,
o suor toldava-lhe a visão.
Conseguiu apenas adivinhar o silvo de uma flecha
e uma dor lancinante atravessou-lhe a garganta
impedindo-o de gritar. Os olhos pararam a paisagem
e o silêncio invadiu os horizontes de Gangaikonda,
enquanto a pedra vermelha se desfazia em pó
lento e inexorável e as estátuas desapareciam
diante dos olhos já líquidos do imperador.
Um século mais tarde, no local da batalha, iniciou-se a construção
difícil e demorada de Gangaikondacholapuram.
Várias equipas de canteiros abandonaram o local
ao longo dos anos em fuga aterrorizada.
Diziam ouvir mantras dentro das pedras
e uma respiração cadenciada como a de quem medita.
Etiquetas:
Dinastia Chola
segunda-feira, 4 de maio de 2009
A lenda de Kamakhya
Kamakhya é um complexo de dez templos que representam outras tantas formas da deusa Parvati, companheira de Xiva e situa-se em Nilachal, a montanha azul, perto de Guwahati a capital do Assam. Eis a lenda:
A consorte de Xiva, Parvati, travou uma discussão conjugal
a propósito da festa que seu pai ia dar nos próximos dias
e para a qual Xiva não tinha sido convidado.
Dizia Parvati que não precisava de convite para assistir
a um sacrifício a efectuar na casa de seu pai
e que Xiva, sendo seu marido, devia acompanhá-la.
Orgulhoso, Xiva insistia que sem convite nada feito
e que proibia a sua mulher de ir e que aquilo era uma afronta
do sogro e que era assunto encerrado.
Parvati repetia que com ou sem autorização do marido iria
à festa de qualquer maneira ... e que não que não vais ... e que sim que vou, tu não sabes do que eu sou capaz e a discussão subindo de tom e as posições extremando-se e Parvati, como derradeiro argumento, numa dança diabólica em torno de Xiva
assume sucessivamente dez formas terríficas de outras tantas deusas.
O Ser Supremo espantado e confuso com o imenso poder da sua esposa, acedeu em deixá-la ir sozinha à festa de seu pai.
A festa decorreu animada mas muita gente presente criticou
violentamente Xiva pela sua atitude de distância e soberba
em relação aos outros deuses assim como a sua mania
da superioridade. Isto perturbou mortalmente Parvati
que não admitindo tão violentas críticas ao seu marido
na ausência deste, lançou-se na fogueira do sacrifício,
imolando-se pelo fogo. A versão tântrica da história conta que ela
se auto-aniquilou pelo poder do yoga.
Xiva, que estava em meditação profunda,
como era aliás seu costume, sentiu uma enorme perturbação e,
Omnisciente, percebeu de imediato o que se tinha passado.
Louco de raiva e de dor, transportou o cadáver
da sua amada pelo mundo fora destruindo tudo à sua passagem.
Os deuses temeram pelo fim do Universo e,
reunindo um conselho, nomearam Vixnu para pôr cobro
a tão desvairada destruição. Vixnu perseguiu Xiva e,
quando o encontrou, usou o seu terrível disco
para despedaçar o corpo de Parvati em 51 pedaços
que se espalharam pela terra da Índia.
Desde então, esses 51 lugares são outros tantos xakti pithas,
locais de culto da deusa.
No Assam, em Kamakhya nas montanhas azuis,
caiu o yoni (vagina) a parte mais sagrada da deusa da procriação,
a fonte da vida. Esta é a lenda de Kamakhya, aquela cujo nome é desejo, ou Kamarupa, a que tem a forma do amor.
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