Interrogo-me sobre a factura que os portugueses vão pagar às instituições que nos vão emprestar biliões de euros. Interrogo-me sobre a minha parte dessa factura e, sobretudo, porque é que eu vou ficar a dever dinheiro durante anos. Sempre trabalhei, sempre paguei os meus impostos, não pratico peculato nem tráfico de influências; os empréstimos que contraí estão pagos ou a caminho de o ser; paguei pontualmente todas as contas que me foram apresentadas nos hospitais, nas diversas empresas ou pessoas que me prestaram serviços; não recebi dinheiro por baixo da mesa nem pintei sacos de azul; tenho vivido alguma parte da minha vida no estrangeiro significando isso que não utilizo em igual percentagem os serviços públicos e, como tal, provoco menor desgaste; não gasto acima das minhas possibilidades nem recorro ao crédito para pagar estatutos de sol e praia em lugares exóticos ou para ter um sofisticado automóvel de dois em dois anos; nunca gastei mais do que aquilo que posso pagar. Daí a minha pergunta: mas o que é que eu devo? A quem devo? Porque devo? Se alguém fez mal as contas, corrompeu, geriu mal, não estudou nem teve visão para manter equilibrada e desenvolver a mercearia Portugal & Herdeiros que se chegue à frente. Eu como cidadão não devo nada a ninguém e não quero pagar o que não devo: é um mau princípio.
quinta-feira, 28 de abril de 2011
domingo, 24 de abril de 2011
25 de Abril de 1974: datação pelo Carbono 14
Há muitos, muitos anos, havia o bom povo português, cinzento, submisso, analfabeto que pouco se indignava, valha a verdade, com o contexto e a condição em que vivia.
Agora, assistimos paulatinamente às novas conversas em família onde, políticos, politólogos, comentadores vários nos apresentam a banalidade e os segredos de Estado, servidos a frio, numa bandeja de alumínio; não nos incomoda que o Sr. Presidente da República, a mais alta figura do Estado (vá-se lá saber o que isto quer dizer), comunique via Facebook qual adolescente púbere que acabou de descobrir as maravilhas da vida virtual; reagimos estáticos à mensagem pascal do novo oráculo do qual dizem que é uma pessoa com quem se pode conversar; assistimos às intervenções lunáticas de uma esquerda que não percebe realmente o papel criminoso que desempenha nesta história; substituímos o cinzento pelo beije e pelo verde dito sustentável e pagamos os produtos bio como se fossem de luxo dando grande ênfase científico à permacultura, coisa que sempre foi feita pelos pequenos agricultores que trabalham a terra; deixámos de ser submissos mas continuamos à rasca ou calados fora do café; analfabetos já não somos de facto, somos sim quase todos proprietários endividados que lidam muito bem com a dívida do estado, com os salários milionários, com a injustiça da justiça; continuamos a não nos indignar mantendo uma continuidade cultural sólida, profunda e transversal à sociedade; continuamos a não discutir a pátria e a autoridade mas discutimos, cada vez mais, Jesus, já não é mau. Uma parte do título deste post, 25 de Abril de 1974 é história antiga e é compreensível que assim seja: a velocidade dos acontecimentos aumentou muito desde então, a própria noção do nosso tempo interior também mudou e, estes anos assentaram em cima de uma cultura presa a fundos preconceitos e ancestralidades fatais que a pós-modernidade deixou incólumes. Talvez com o método científico de datação pelo Carbono 14 consigamos ter uma aproximação histórica mais precisa e informada. Ficaria bem, para acabar, um 25 de Abril Sempre mas, depois de ouvir o Otelo dizer que se soubesse que era para isto não o teria feito e que precisamos de uma personalidade com a inteligência de Salazar, acho que as palavras deixaram de ter significado e está instalado o vazio — que é o espaço ideal para quem medita.
sexta-feira, 22 de abril de 2011
sexta-feira, 15 de abril de 2011
quinta-feira, 7 de abril de 2011
Socrates Alcáçer Coelho Kibir
Uma nação antiga e de profundas convicções; homens temperados pela gesta de dobrar cabos; uma cultura ontológica; um povo iluminado e crente no sexto império; gente que não discute a autoridade nem a pátria; uma intensa cultura de sofrimento, incompetência e insensatez. Apenas com estas condições reunidas é possível voltar a viver o mito, voltar a combater nas areias de Alcáçer FMI-Kibir, voltar a perder tudo e nada, hipotecar futuro na espera. Estava reservado para Portugal este acontecimento raro na história do Mundo e dos homens: repetir o mito. Repetir o único mito decente e com categoria interpretativa de que dispomos. Aguardaremos Sebastião numa manhã clara de Junho (não há dinheiro para a máquina de nevoeiro). À sua espera no cais de Belém, uma comitiva de notáveis perfilados ao longo das palmeiras que serão plantadas no futuro. Embaixadores da Alemanha e da França sentados em cadeiras de praia, saúdam a chegada. Ao longe, porcos carregados de refrigerantes, inquietam-se e fuçam na relva amarela, desgastada e cheia de beatas. Em casa o povo/plasma acompanhará a cerimónia com umas superminis fresquinhas. Portugal está, de novo, no bom caminho!
quarta-feira, 6 de abril de 2011
terça-feira, 5 de abril de 2011
sábado, 2 de abril de 2011
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