terça-feira, 25 de setembro de 2012

Consumidor final

Hoje fui almoçar a um restaurante onde não aceitavam Multibanco. Compreendi o problema. Elevadas taxas pagas aos bancos, 2,5/3%. O que eu pergunto é porque é que o “consumidor final”, aquela entidade mítica da sociedade portuguesa, paga tudo em dinheiro ou em ausência de serviços. Porque é que os restaurantes, através das suas associações não dizem aos bancos: meus senhores a partir de agora só pagamos 0,5%, é pegar ou largar. Resolveriam assim o problema sem nos meterem no assunto nós, consumidores finais. Eu, consumidor final vou passar a atirar para mais abaixo na escala da evolução, isto é: abaixo de mim (este abaixo é relativo), há ainda outros consumidores finais como por exemplo, varejeiras, baratas, diversas qualidades de insectos e coleópteros. Vou passar a descarregar neles o IVA e todas as taxas do consumidor final. A partir de agora baratas, tragam dinheiro porque o Multibanco já era!

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A Esquerda e os bandidos ou Sandokan e o tigre de papel.

Não são novidade as medidas anunciadas nem podem constituir
surpresa. São apenas mais um passo da Via Dolorosa que iremos
percorrer durante bastante tempo. São medidas ideológicas
pensadas e executadas com a frieza de um jovem ultra-liberal, o
paquete bem acolitado dos grandes grupos económicos. Aguardo
ansiosamente, a comunicação ao País do Passos Coelho e do
Cavaco na véspera de Natal. De facto, o que apetece perante a
soberba doce do Primeiro, perante o sorriso alarve do Ministro da
Economia e perante a falsa introspecção discursiva do Ministro das
Finanças é ter uma recaída de extrema esquerda, uma violenta ida
à rua, um confronto radical, um exorcismo. Mas, tendo em conta o
elevado preço da gasolina, a atitude cocktail Molotov arrisca-se a
ficar muito cara, dada a quantidade que seria necessária. Em todo
o caso seria muito gratificante para o ego e para o narciso. A
atitude, convocar manifestações, vai ter uma grande adesão.
Vamos manifestar nos percursos clássicos, haverá alguns
confrontos violentos, bastantes discursos inflamados e novas
convocações tudo a bem da democracia. Politólogos de formação
rápida inundarão os media com opiniões repetitivas,
sensaboronas, ignorantes mas muito bem pagas. A casa da
democracia discutirá à saciedade estas medidas, as oposições, se
as tiverem, manifestarão as suas estratégias, haverá greves e
outras paralisações, o governo ripostará em vários fora...e por aí
fora. Tudo como dantes. Eles enriquecem, nós empobrecemos.
Então o que fazer como dizia o outro? A Esquerda (ainda?) não é
um movimento consistente, de actuação sistemática nos vários
planos da sociedade, abrangente, flexível/intransigente, inovador,
incansável. O PS tal como está configurado, não faz parte desta
história. A Esquerda não tem uma voz, uma política, uma atitude
mobilizadora, coerente e, sobretudo, alternativa. Então o que
fazer?
Para as grandes empresas e para o Governo deixámos há muito
de sermos considerados cidadãos, somos apenas consumidores,
cada vez mais pobres, dispostos a todas as formas de escravatura
e submissão. Esta “desvantagem” pode ser utilizada neste
combate. Assumamos declaradamente a nossa condição de
consumidores e deixemos de consumir: a gasolina, o telemóvel, o
que compramos e que é supérfluo, restaurantes, livros, jornais,
álcool, tabaco, uma lista grande de coisas que poderemos
dispensar durante um mês. Fiquemo-nos, durante esse período
pelo consumo dos bens essenciais. Conseguimos fazê-lo, estou
certo. Ajudemos o Governo a levar a economia ao fundo mas, já
agora, duma forma equitativa onde as grandes empresas também
tenham que pagar os custos. Empobreceremos mas
empobreceremos todos de uma forma democrática. Jejum,
abstinência de tudo o que não é necessário à vida, austeridade
sim, mas comandada por nós, verdadeira austeridade.
Simultaneamente ler com atenção os artigos vigésimos primeiro e
segundo da Constituição da República e,
desencadear acções legais nesta matéria. Encomendar estudos de
modo a que o Povo se possa constituir como parte civil na
acusação ao Governo e demais Órgãos de Soberania e, deste
modo, estar salvaguardado em acções de desobediência civil a
levar a cabo. Levar o Governo a tribunal por desobediência a uma
decisão do Tribunal Constitucional. E, claro, todas as outras acções
clássicas de protesto. Simultaneamente que se comece a ouvir a
voz e a energia da Esquerda. E, se possível, inventar receitas de
novos cocktails.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Política

Estamos conscientes da ferocidade messiânica de quem nos governa. Estamos conscientes da prevista evolução de Cavaco Silva para Cavaco de Deus Tomás acompanhando, aliás, a evolução do Ministério da Cultura para uma futura Direcção Geral de Serviços Culturais, Eventuais e Afins. Estamos conscientes da paralisia do PS e da mediocridade quer da sua intervenção política quer dos seus actuais dirigentes. Sabemos, mesmo sem consultar os vários oráculos que mediatizam a crise que, há várias velocidades na Europa, há uma Europa de ricos e outra de pobres, uma moeda única não obriga a um pensamento único. Sabemos que só o Ministro da Finanças se surpreende com o desemprego, os desempregados já não. Sabemos isto e muito mais por exemplo que gostaríamos de ser felizes. Vivemos décadas numa ditadura fascista, num país cinzento, pobre, inculto, colonizador, racista, invejoso, pequenino Portugal. As comparações são sempre manipuladoras mas hoje, quando oiço as vítimas dos incêndios, grande parte deles produto de uma política florestal criminosa, não posso deixar de comparar com as declarações das vítimas das cheias em 1967 na Região de Lisboa. É o mesmo povo, as mesmas palavras, a mesma profunda tristeza e total impotência perante “eles”, as entidades abstractas, os que governam, os que não se sabe bem quem são...os que nunca cá vieram! Dizem-nos, que nunca em Portugal, tivemos uma juventude tão escolarizada. E isto significa o quê? É isto um indicador de desenvolvimento humano? É o número de telemóveis um indicador de desenvolvimento humano? Perante a declaração atabalhoada de uma velhinha sem dentes e com dor nos olhos, estas estatísticas desvanecem-se e alertam-nos para que é preciso voltar a colocar a política no posto de comando, no pensamento e na decisão. E voltar a eleger políticos e não funcionários nem que para isso seja preciso andar à porrada. Acho que é mesmo isso que está a faltar.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Portugal outlet

Gostamos muito de marcas. Não lavo os dentes mas os meus ténis são ...
A minha mãe foi obrigada a dar-me um ... phone senão zangava-me com ela;
As parcerias público-privadas são uma boa marca mas, na maior parte dos casos, tem defeito;
as bengalas dos cegos que mendigam no Metro são cabos de vassoura e percutem no chão agradecendo a esmola da troika;
temos um primeiro ministro autêntico, um jota genuíno, um total incompetente mas com defeito no que respeita aos discursos do desemprego e outros;
também temos um PR perfeito, totalmente banal e originalmente português mas, lá está, tem defeito, tem o defeito de dizer coisas ocas e saltitantes, tem o defeito de nos envergonhar cada vez que abre a boca salivante;
o povo português é, em regra, cortês, hospitaleiro, gesticulador mas, enfim, tem um defeito, fala alto demais e cala-se quando não devia;
a justiça é do melhor que há. Gente séria, trabalhadora mas... tem defeito, o defeito da prescrição. Não sendo isso ninguém a quereria;
tentamos vender o melhor país ao melhor preço mas ninguém nos quer, os mercados não nos querem. Estamos a ser postos à venda no mercado errado. Se nos colocarem no mercado outlet, seguramente que seremos vendidos depressa com lucro defeituoso é certo mas, apesar de tudo, lucro;
dizem que se vende gato por lebre mas eu acho que é uma afirmação errada: vendemos apenas lebre outlet, com um pequeno defeito nas orelhas. Não há gato aqui e, se houvesse, teria um pequeno defeito. Qualquer advogado inteligente usaria esse pequeno defeito para protelar a afirmação “gato por lebre” e arrastá-la, décadas em sérios e competentes tribunais nacionais;
acho que chegou a altura de encontrar um blog outlet!

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Cidade dos mil lagos

Lisboa quer competir com o país dos mil lagos. Saudável e inovadora atitude. Não temos NOKIA mas temos calçadinha à portuguesa onde pousam, cada vez que chove, os tais mil lagos. Atrevo-me a dizer que são mais de mil e aí já ganhámos ao país das renas. Cada vez que chove esta cidade fica intransitável para os peões. A culpa é deles que andam a pé, andem de carro como toda a gente e já não teriam que fazer malabarismos e coreografias em palco de passeios revestidos da tal calçadinha à portuguesa que faz a delícia dos turistas em tempo seco. Recomendo aos calceteiros um cursozito de formação extensível aos fiscais e aos engenheiros das várias especialidades camarárias. Um cursozito de compactação de pavimentos para ver se conseguem fazer um piso liso. Eu sei que é difícil fazer um piso liso, sem buracos, sem mil lagos mas podiam tentar. Estenderia este cursozito de compactação de pavimentos aos patos-bravos, empreiteiros e também fiscais e engenheiros que se ocupam de alcatroar as ruas. Com o qualquer lisboeta sabe, quando chove não nos podemos aproximar da estrada porque há outros lagos, que afundam o pavimento junto aos passeios e que provocam grandes molhas e impropérios contra os automobilistas. Este cursozito também se destinava a poderem fazer, os tais construtores, um piso liso. A melhor solução em todo o caso seria rebentar com a calçada à portuguesa e colocar pavimento tipo parisiense, liso, agradável, antiderrapante e esteticamente muito razoável. Resolveram assim depois dos pavés de Maio 68. Os policias levaram tanta pancada com a “calçadinha” parisiense que o estado resolveu acabar com o pavé pela raiz. Bendita a hora. Se os portugueses seguissem o exemplo nas próximas manifestações e arremessassem calçadinhas aos policias podia ser que os lisboetas pudessem ter, finalmente, um piso liso e agradável de caminhar. A cidade além de estar degradada verticalmente já nem na horizontal se safa. Só lamento que se possa mudar de nacionalidade e não de naturalidade.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Mediterrâneo 2

Montserrat Figueras era uma das músicas deste Mediterrâneo. Calou-se para sempre a sua voz catalã que atravessava o hebraico e o árabe, trazia os perfumes até à Ibéria, voz margem deste mar de infinita compreensão, de infinito sorriso quando os sons de Saval compõem melodias nos terraços de Jerusalém. Uma lágrima pela Síria escorre pelos ouds, uma mão no coração saúda os votantes egípcios e marroquinos, um azedume contamina a opinião sobre a Líbia. Marrocos já votou. O Egipto já votou. A Tunísia já votou e aí são presos e perseguidos ateus. Khadafi foi executado como se esperava. Uma parte da Europa banha-se no Mediterrâneo mas, como aqueles turistas que voltam as costas ao mar e fazem piqueniques que deixam lixos nas poças entre as rochas, assim esta Europa continua a olhar para Berlim enquanto a Grécia arde e morre desistindo de uma vida escrava. O fantasma de Fídias vagueia assustado pelas colunas do Parténon enquanto troikas incultas e predadoras ditam as novas e espartanas leis. Corre o slogan de que somos todos gregos e esta voz atravessa as margens do nosso mar e transporta este mantra infeliz pelas areias de todos os desertos. Jihads espreitam o rigor das práticas religiosas ou o cumprimento de todos os défices. A dívida pública tornou-se no novo Alcorão e novas bibliotecas de Alexandria aguardam em pânico os incêndios que se avizinham, inelutáveis. Os economistas deste mar tornaram-se tementes de Deus e oferecem-se em demorados sacrifícios nos plateaus da fama efémera, carpindo as tábuas da contabilidade. Este mar, ara de sacrifícios dos povos da margem vai ficar, em breve, coalhado e vermelho. Somos todos gregos sim e queremos voltar a ver tirremes coloridas e sonoras sulcando o mar e outras vozes e outras línguas gritadas da outra margem para que acordemos deste torpor esclerótico europeu.

Kabir Festival Mumbai- Mukhtiar Ali-Sufi Rajasthani Folk Singer

segunda-feira, 2 de abril de 2012

A loucura normal

É uma coisa que todos temos a loucura. Uma coisa que nos habita e explora os territórios onde alugamos a residência afectiva, invade a casa do vizinho, tranca as portas e as janelas onde, por vezes, penduramos flores. A loucura normal é bem pior, envenena, não olha direito, é normal, inteligente e artística, desempoeirada e um pouco oportunista. Os maus observadores dizem que é falsa eu, não. Acho que é totalmente verdadeira na dimensão do sofrimento que lhe tolhe o fluir do plasma, estabelece dogmas sólidos e pacientemente construídos em noites e dias brancos, em afirmações repetidas à exaustão. A loucura normal é socializante e pública, simpática e um pouco cínica como se deve. A loucura é normal.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Cães de choque

O que eu sugiro é que na próxima manifestação de polícias, o povo empunhe uns paus e vá "manter a ordem" modificando assim, ligeiramente, o slogan de Abril: polícias a correr à frente do povo em vez de polícias ao lado do povo. Cumprir Abril neste caso pelos costados abaixo. Por outro lado compreendo que quem treina várias vezes para "defender a ordem" e não consegue fazer estágios por exemplo no Afeganistão, tenha que fazer o gosto ao bastão aqui mesmo no centro da cidade. É um estágio profissional e tem a vantagem de ser pago. Nesta manif a minha avaliação das forças da ordem é de 17 valores.

quarta-feira, 21 de março de 2012

A propósito do dia mundial da poesia

Primavera planetas alinhados, meu filho transa o corpo que não lhe cabe na pele.
Primavera, Sol que bate dentro das tea-shirts e uma testosterona invade as perfumarias.
Na rua, na poesia do dia, as mãos descontrolam-se pelo sexo adentro.
Não é só de agora que o amor urge.
A mudança climática incomoda o planeta e tu.
Está húmido na mente.
Há fungos à solta no bosão de Einstein.
A relatividade geral desnuda a física e os olhos mordem a tanga.
Primavera.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Estatísticas


Os velhos morrem. Os velhos morrem o dobro do que costumam morrer. Os velhos inquietam as estatísticas que serão analisadas por uma bateria de não-velhos. Os resultados serão publicados daqui a uns meses quando mais velhos terão morrido fora ou dentro do previsível. Num pais de cravos não haverá flores nestas valas comuns.  Seis mil flores mal empregadas, dirão, para quem ia morrer de qualquer maneira. Não há discurso, programa de partido, discussão na Assembleia, feriado abolido que resista a esta solidão, a esta doença não tratada, a este frio pelos frágeis ossos acima, a este definhar escondido e envergonhado. É um número simbólico, murro no estômago de um pais merdoso que é o nosso. É um número triste que destrói definitivamente qualquer argumento elegante e pseudo-científico. É um número frio, matematicamente puro, inexorável. É um número de uma clareza estonteante, um retrato à la minuta do caminho que percorremos durante décadas. Chegámos aqui, engravatados e europeus, corruptos, austeros, turistas em Santa Comba. Que nojo!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Sacrifícios para todos e uma longa vida ao camarada Nuno Crato

Gabinetes do Secretário de Estado do Ensino
Superior e da Secretária de Estado da Ciência

Nos termos e ao abrigo do disposto nos n.os.3 e 4 do artigo 2.º e no
artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 262/88, de 23 de julho:
1. É nomeada Helena Isabel Roque Mendes para, no âmbito dos nossos
Gabinetes, exercer funções de apoio à Rede Informática do Governo
(RING) e de interface com o Centro de Gestão da Rede Informática do
Governo (CEGER).
2. A nomeada auferirá uma remuneração mensal de € 1.575,00 (mil
quinhentos e setenta e cinco euros), atualizável na mesma percentagem do índice 100 da escala salarial das carreiras do regime geral da função pública, acrescida do subsídio de refeição que estiver em vigor.
3. Nos meses de junho e novembro, para além da mensalidade referida no número anterior, será paga outra mensalidade de € 1.575,00 (mil quinhentos e setenta e cinco euros), a título de abono suplementar.
4. Os encargos resultantes do presente nomeação serão suporta-
dos pelo orçamento do Gabinete do Secretário de Estado do Ensino
Superior.
5. O presente despacho produz efeitos a partir de 28 de junho de 2011, e é válido pelo prazo de 1 ano, renovável, até à sua caducidade, conforme o previsto na parte final do artigo 11.º do Decreto-Lei n.º 262/88,
de 23 de julho.

11 de janeiro de 2012. — O Secretário de Estado do Ensino Superior,
João Filipe Cortez Rodrigues Queiró. — A Secretária de Estado da
Ciência, Maria Leonor de Sá Barreiros da Silva Parreira.
205587043

Despacho (extrato) n.º 774/2012

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O culto do culto do culto



Obra magistral a não perder ainda que bastante longa. Tenham paciência porque trata-se, efectivamente, de um querido líder.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Dois mil e doze noves fora...

 Ele é a troika que são pr’ái 400 ou 500; ele é profecias de astrólogas, tarólogas, politólogos e professores; ele é calendários interrompidos, inclinações dramáticas de vários eixos e seres salvadores de outros planetas que já cá estão mas…  na descontra; ele é alteração do DNA, aumento do IVA e o DN a aderir ao Acordo Ortográfico; ele devia ser permitido pisar a relva, pontapear as portas e caçar coelhos fora de época e sem licença. Tudo isto logo no príncipio de 2012, alguém acredita que os novos Maias nos vão deixar chegar ao fim?