A propósito do sistema de Astrologia Naadi
O som do Tamil antigo reverberava acompanhando a batida pouca-terra, pouca-terra. Na travessia do verde para Sul, cocos e pedra, um ou outro camião na faina da areia, bicicletas suspensas de escadarias incompletas e o mar. Já o Sol caminhava na frente do comboio conquistando o horizonte quando abriu os olhos. O calor e o cansaço nem eram tanto assim mas dormira profundamente debaixo de uma lembrança de manuscritos de folha de palmeira, de palavras tão encantatórias quanto ininteligíveis, de descoberta de caminhos, de dúvidas sobre o quotidiano, de certezas sobre o Universo. Falara-se de problemas de jurisprudência, de achaques possíveis ou certos, de fins de vidas alheias e queridas e da sua própria. Numa língua musical e longínqua ouvira escreverem-se à medida do desfiar do rosário do espaço/tempo, intenções, destinos, futuros. Que misterioso elo liga uma folha de palmeira marcada com caracteres de Tamil antigo onde se constrói sílaba a sílaba um futuro reencarnado e uma cassete audio com esta história contada para reouvir, depois. Quando decidimos inquirir o que somos neste universo Naadi que energias confluem na direcção de Saraswati Mahal e de Vaitheeswarankoil e provocam escritas num alfabeto que já ninguém fala mas que se torna claro e inteligível defronte de um ler e dizer sábios. Organizam-se essas escritas à volta da marca indelével e única de um dedo em tinta azul e procuram-nos tanto quanto as procuramos. No entanto, uma palavra, um conceito, uma respiração lida diferentemente, uma intenção oculta desconhecida, podem precipitar o discurso nosso para outrem e atirar-nos para tão longe ou para tão perto do que poderia ser destino, caminho, encontro. Desde então que lhe fica uma subtil sensação de que se possa ter enganado, interpretado mal uma questão e, assim, ter vestido a pele de outro personagem, caminhante do Universo. De andar à procura de si noutro corpo, de pensar por mente alheia, de ter uma história qua não é sua mas que poderia ser sua, ou que é minha e não me reconheço nela.
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