E este rio que corre, aqui em Banaras, de Sul para Norte. Este rio, cabelo de Xiva em cascata poderosa a despenhar-se sobre a terra em fragor imenso, não fora a deusa Ganga adoçá-lo na sua mão e aquietá-lo na planície. Este rio purificador que guarda silenciosamente mil preces quotidianas, mil oferendas de fogo e flores, mil cânticos, o Cosmos e o Eu. Este rio, altamente poluído, é o objecto de estudo do Dr. Veer Bhadra Mishra, professor de Hidráulica na Banaras Hindu University e, simultaneamente, sacerdote principal (Mahantji) do templo de Hanuman. Como engenheiro Bhadra Mishra tem encabeçado as campanhas de despoluição do rio e trabalha, há vários anos, nesse projecto. Mishraji é hindu e, todas as manhãs ao nascer do Sol, podemos encontrá-lo dentro do Ganges mergulhado nas suas preces e abluções.
Numa conversa atrevemo-nos a perguntar-lhe como consegue banhar-se no rio sabendo que “a deusa Ganga pode ser mortal”. Mahantji não vê contradição e acha que nós, ocidentais, somos cheios de dicotomias. Ele, sendo hindu, venera a Mãe Ganga, sendo engenheiro despolue-a. Problem nain hé!
Admirável flexibilidade da coerência: apesar do aparente paradoxo, cuida-se do objecto da veneração!... o coração e a mentes humanas são, de facto, admiráveis: tão infantis, tão sábios, tão... de facto, inteligentes e humildes... e é assim, atentos ao outro, que iremos percebendo a complexidade do respeito que a vida nos merece. Obrigado, Fernando! Um grande abraço :)
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