quinta-feira, 5 de março de 2009

Orvalhos

Agora dei em ler Herberto Helder aqui nos trópicos. Debaixo de uma jaca no jardim, com um sopro de ar quente que adormece os mosquitos, estendo essa escrita pela tarde. “Havia um homem que corria pelo orvalho dentro”, podia ser aqui onde, num momento breve pela manhã, tudo é possível dentro do silêncio. Momento breve entre a inspiração e a expiração e, nesta eternidade, meditar sobre o “homem que levava uma flecha pelo orvalho dentro, como se estivesse a ser caçado loucamente por um caçador de que nada se sabia”. “A faca não corta o fogo” é o último título de mestre Helder e a pintura de Ilda David na capa atira-me para dentro de uma oficina de alquimista. Engordam as palavras do livro neste espaço de corvos, palmeiras, mangueiras e flores indizíveis. Nem precisam de picante. Obrigado FOGO.

1 comentário:

  1. À tua boleia revisitei também o Herberto, e deambulei pelas páginas de um dos seus livros (Poesia toda 1º vol.1976) e, provavelmente, encontrei(te): "num lugar onde a sombra é gémea de um fogo irrevelado" a Índia de "fomes e sorrisos que nunca se decifram" que nos vais desvendando com os teus textos e imagens singulares.

    ResponderEliminar