sexta-feira, 30 de outubro de 2009
O outro lado do Vedanta
A montanha Niyamgiri em Orissa, na Índia, é o lar e o território dos Kondh uma das mais antigas comunidades da Índia. Este território, lugar sagrado de Niyam Raja, o Deus da Lei Universal, foi vendido a uma poderosa multinacional mineira que dá pelo nome de Vedanta detida por Anil Aggarwal, multimilionário indiano que vive em Londres na antiga casa do Xá da Pérsia. Arundathi Roy solicita a alguém que vá à próxima conferência de Copenhaga, sobre as alterações climáticas que pergunte se é possível, deixar a bauxite na montanha. Leia este magnífico ensaio sobre sustentabilidade e política.
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Imagem da revista Outlook India
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Praxe
Cada vez me perturbam mais as praxes académicas. Agora deram em fazê-las, no Jardim do Campo Grande, já noite caída. São vários grupos de 5 ou 6 caloiros, comandados por um “sargento(a)” de capa e batina. Os caloiros ficam de mãos atrás das costas, cabisbaixos por ordem superior. O dito sargento manda “encher” como na tropa e os caloiros fazem flexões ao som dos gritos histéricos dos sargentos e das sargentas. Cantam canções que se ouvem nos filmes de fuzileiros americanos. O mesmo ritmo e a mesma intenção marcial. É degradante, humilhante e dá náuseas. Estes serão, os futuros e obedientes quadros das nossas empresas, os futuros professores das várias academias, os transmissores do conhecimento científico aos nossos filhos, os futuros licenciados nos vários ramos do conhecimento. Pobre conhecimento e pobre País!
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Banalidadologia
Apetece-me falar desta nova tribo dos politólogos e analistas políticos que se reproduziram bastante nos últimos anos. A sua taxa de natalidade é muito superior à média nacional daí eu deduzir que o seu DNA também deva ser diferente do nosso. Têm uma coisa em comum: são reis do lugar...comum. Envergam a banalidade como colares de contas que trocam por uma cadeira frente a um qualquer microfone. Debitam conselhos mitigados e generalidades mastigadas como se fossem os anciãos desta etnia apolítica. Alguns, poucos, pela sua longa carreira, já fazem indisfarçadamente o papel de feiticeiros e é vê-los, nas grandes noites de ajuntamentos do povo nu, frente ao oráculo TV, debitar pedaços de futuro em forma de ses... e naturalmentes ... e eventualmentes.
Nesta roda de país à volta do fogo, dentro do fogo arrotam, como os curandeiros índios só que, neste caso, são postas de pescada em português vernáculo. Como nos livramos deles? Claro que só com uma magia mais forte e mais poderosa. Abro aqui um concurso de ideias sobre a melhor maneira de fazer, por artes mágicas, desaparecer do território mediático a tribo inimiga.
Nesta roda de país à volta do fogo, dentro do fogo arrotam, como os curandeiros índios só que, neste caso, são postas de pescada em português vernáculo. Como nos livramos deles? Claro que só com uma magia mais forte e mais poderosa. Abro aqui um concurso de ideias sobre a melhor maneira de fazer, por artes mágicas, desaparecer do território mediático a tribo inimiga.
Gopal
Gopal é pan walla em Bhelupura, um dos bairros de Varanasi. A loja de Gopal consiste num plinto elevado, uma mesa baixa com pés de prata e os apetrechos para o fabrico do pan: folhas de pan, noz de betél, cal, tabaco de mascar, compota de rosa, folhas de menta, duas ou três pequenas taças de metal com uma espécie de pigmento comestível (é o segredo de Gopal). Gopal senta-se em padmasana (posição de lótus) por isso não há cadeiras. Diz-se que o pan de Varanasi é o melhor da Índia e, o pan de Gopal, é, certamente, o melhor de Varanasi. A sua mini loja é bastante concorrida sendo um local de conversa que se estende até o meio da rua. Gopal sorri constantemente e a coreografia dos gestos na preparação do pan é encantatória. Durante uns tempos fiquei viciado neste mitta pan que Gopal me preparava cada vez que saía de casa. O pan masca-se longa e docemente e cospe-se abundantemente deixando por toda a cidade marcas vermelhas características. Depois de uma tali bem picante, mascar esta folha com noz de betél e cal é uma frescura que inunda a boca e descontrai. O meu amigo Bruce dizia: if you chew five you can get high!
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Virendraji
Virendra Singh é rajastani mas vive em Banaras há longos anos. É um dos mais conceituados professores de Hindi da cidade com um grande curriculum internacional. É leitor sénior da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos da América onde se desloca todos os anos.
Virendra tem 3 filhas e, por isso mesmo, grandes trabalhos lhe aconteceram com a quantificação e escolha dos dotes e com a organização dos casamentos. Oriundo de uma família tradicionalista rajastani estava, no entanto, aberto a todas as modernices que os seus estudantes de várias nacionalidades lhe davam a conhecer mas, no que respeita a namoro e casamento das filhas era assunto tabu. Nem as provocações que os estudantes lhe dirigiam: Virendra ji como se diz em Hindi casar fora da casta? — ou outras, o levavam a falar do assunto sem o peso da tradição e da família. A sua filha mais velha Kashika evidentemente que se enamorou de um jovem indiano, seu colega de faculdade, fazendo nascer uma relação completamente apaixonada e heterodoxa. Toda a família ficou contra ela, excepto as duas irmãs e os estudantes de Virendra que lhe davam toda a força. Virendra foi bastante pressionado mas ganhou a tradição e Kashika foi obrigada a casar, após um longo processo de identificação e escolha do noivo. Foi viver para Ajmer uma cidade do Rajastão ficando afastada da sua querida Banaras e dos contactos diversificados que a casa do pai lhe proporcionava. Kashika ficou triste e, ainda hoje, nos seus olhos grandes lagos negros emerge, entre sorrisos hospitaleiros, o peso do Dharma.
terça-feira, 20 de outubro de 2009
A nova biblioteca de Alexandria
O eurodeputado social-democrata e vice-presidente do partido Popular Europeu Mário David exorta Saramago a abdicar da nacionalidade portuguesa. Finalmente temos o nosso, verdadeiro, único, português jihadista. Até agora só o Lara se tinha assumido como fundamentalista. Agora, imaginem, um vice-presidente do PPE, reivindica para si a cruzada. Temos finalmente um fundamentalismo institucional, sério, politicamente correcto uma coisa de fazer inveja à Santa Sé. Convido o deputado Mário David a realizar uma cimeira mundial para a qual convidaria, a sugestão é minha, L.K. Advani e Narendra Modi do Baratha Janata Party da Índia, o Mulah Omar que se crê estará no Waziristão, o braço direito e esquerdo de Bin Laden o famoso médico egípcio Ayman al-Zawahiri, uns quantos rabinos e uns quantos padres católicos americanos, para ser uma coisa equilibrada. Ponto único dessa cimeira: como queimar ecologicamente os livros que são contra as respectivas ideias de igreja, uma espécie de incêndio da Nova Biblioteca de Alexandria mas sem emissão de carbono, por causa da taxa. Pense nisso Sr. Deputado, tenho a certeza de que seria um sucesso numa das próximas cimeiras do clima.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Falta de material
A semana passada ocorreu o Dia Internacional da Coluna. Esta semana o meu filho, que vai a pé para a escola, e todos os estudantes da idade dele, continuam a transportar quilos de material nas mochilas. Estas crianças fazem, durante anos, o papel de estivadores do conhecimento. Estas crianças serão os futuros clientes dos actuais estudantes da especialidade de Ortopedia. Do ponto de vista da empregabilidade quanto mais peso na mochila, mais mercado para os futuros médicos. É uma medida política de longo alcance e de rara visão económica mas, apesar de tudo, eu prefiro esqueletos escorreitos ainda que desempregados. Pergunto se não haverá uma maneira mais inteligente, mais saudável, menos lesiva dos esqueletos em desenvolvimento.
É possível as várias instituições envolvidas no processo educativo e de saúde pensarem um pouco sobre este assunto? Trata-se de formar cidadãos activos e saudáveis com o centro de gravidade no sítio certo. Trata-se do futuro. Nalgumas manhãs apetece-me dizer ao meu filho:
—Deixa tudo em casa que eu depois assino a caderneta!
É possível as várias instituições envolvidas no processo educativo e de saúde pensarem um pouco sobre este assunto? Trata-se de formar cidadãos activos e saudáveis com o centro de gravidade no sítio certo. Trata-se do futuro. Nalgumas manhãs apetece-me dizer ao meu filho:
—Deixa tudo em casa que eu depois assino a caderneta!
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Kaliyuga
“No fim da noite do tempo todas as coisas regressam a mim e, quando começa o novo dia do tempo, devolvo-as, outra vez à luz”
Sempre me fascinou a medida do tempo na cultura indiana. Gostava de vos dar a conhecer uma sistematização dessa medida.
Tomo como base o ano divino que é igual a 360 anos comuns.
As yugas são uma das divisões mais conhecidas
Kritayuga = 4800 anos divinos = 1.728.000 anos
Tetrayuga = 3600 anos divinos = 1.296.000 anos
Dwaparayuga = 2400 anos divinos = 864.000 anos
Kaliyuga (onde nos encontramos) = 1200 anos divinos = 432.000 anos
Considera-se que estamos (em 2009) no ano 5110 de Kaliyuga restando 426.890 anos para completar esta era negra.
Mahayuga ou Chaturyuga = 12.000 anos divinos = 4.320.000 anos
72 Mahayugas = Manvantara
14 Manvantaras = 1 Kalpa = 4.354.560.000 anos
1 Kalpa equivale a mil e oito Mahayugas e, assim, a cerca de doze milhões de anos divinos o que corresponde a um dia de Brahma.
Oito mil anos de Brahma é um Brahmayuga
Mil Brahmayugas = uma Savana
A vida de Brahama dura 3003 Savanas o equivalente a um dia de Mahavishnu, isto é, BUÉ DE ANOS, façam as contas que dá um número interessante.
A definição metafórica de Kalpa, período entre a concentração e a dissolução de um sistema, é dada por Siddharta Gautama, o Buda, do seguinte modo:
Imaginem uma montanha de rocha dura maior que os Himalaias. Imaginem igualmente um homem com uma peça de seda das mais finas de Banaras que, todos os cem anos, afaga a montanha com este tecido leve. O tempo que ele levaria para “gastar” a montanha seria semelhante a um Kalpa.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Este rio...
E este rio que corre, aqui em Banaras, de Sul para Norte. Este rio, cabelo de Xiva em cascata poderosa a despenhar-se sobre a terra em fragor imenso, não fora a deusa Ganga adoçá-lo na sua mão e aquietá-lo na planície. Este rio purificador que guarda silenciosamente mil preces quotidianas, mil oferendas de fogo e flores, mil cânticos, o Cosmos e o Eu. Este rio, altamente poluído, é o objecto de estudo do Dr. Veer Bhadra Mishra, professor de Hidráulica na Banaras Hindu University e, simultaneamente, sacerdote principal (Mahantji) do templo de Hanuman. Como engenheiro Bhadra Mishra tem encabeçado as campanhas de despoluição do rio e trabalha, há vários anos, nesse projecto. Mishraji é hindu e, todas as manhãs ao nascer do Sol, podemos encontrá-lo dentro do Ganges mergulhado nas suas preces e abluções.
Numa conversa atrevemo-nos a perguntar-lhe como consegue banhar-se no rio sabendo que “a deusa Ganga pode ser mortal”. Mahantji não vê contradição e acha que nós, ocidentais, somos cheios de dicotomias. Ele, sendo hindu, venera a Mãe Ganga, sendo engenheiro despolue-a. Problem nain hé!
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Lisboa
NÃO: Nada de proas homéricas singrando rio acima, batidas de ignotos mares, a fundar a capital do futuro Império-que-foi: mas um homem hirsuto e furtivo, talvez em busca da liberdade, que um dia assomou aqui e, com a mão afeita ao sílex, arredou o espesso canavial a olhar com espanto a serena e virgem expansão das águas, onde o sol se espelhava, quente e glorioso como um deus possessivo.
Ergueu a choça à beira-ria, ao abrigo do juncal, onde convergiam as águas dos abruptos morros e colinas. E constituiu família, pedra angular duma história e dum carácter. Tudo data da entrada em cena desse homem seminu e ungulino.
José Rodrigues Miguéis
Ergueu a choça à beira-ria, ao abrigo do juncal, onde convergiam as águas dos abruptos morros e colinas. E constituiu família, pedra angular duma história e dum carácter. Tudo data da entrada em cena desse homem seminu e ungulino.
José Rodrigues Miguéis
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Nobel Knorr
Eu acho que o que está errado é Obama não receber igualmente os prémios Nobel da Economia, Física, Química e Literatura. Afinal o que o Mundo precisa não é de pessoas que trabalhem no terreno, que investiguem que afrontem a prisão, a ditadura, a repressão, que lutem e mobilizem outros em torno de nobres ideais. O que o Mundo precisa afinal é de um messias e da sua "bíblia". O Mundo está outra vez à procura de Deus, de soluções mágicas, rápidas e com boa pinta no écran. Boas notícias para os produtores de sopas instantâneas. Afinal a slow food já era.
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Sobre a pobreza
Que capacidade é esta que tem a nossa espécie de tornar transparente, imaterial e nulo o que não queremos ver. Ignoramos os olhos estiolados do cego no swing da esmola. Atravessamos o espaço dos sem-abrigo cientes de que se trata de uma condição provisória, filosófica ou acidental. Somos incapazes de estender a mão a quem está caído porque terá uma doença contagiosa, estará bêbedo ou drogado ou vai lançar-nos um mau olhado, ou é seguramente estrangeiro, ou... Queremos convencer-nos que dantes não era assim. Claro que havia mecanismos sociais que se perderam, a sopa semanal do pobre, a esmola periódica mas, de resto, esta capacidade Photoshop de tornar transparente a camada mais dura do real, sempre fez parte de nós. Chamamos aos pobres socialmente desfavorecidos porque gostamos de adjectivar a vergonha. Quantos de nós já cheiraram a pobreza ou conviveram com a barraca de telhado de zinco ou tomaram uma refeição parca mergulhando nos olhos famintos dos cães? A pobreza real está escondida como as castas intocáveis que moram longe. Ouvimos falar da pobreza através de declarações ora ofensivas ora compreensivas, através da burocracia legal e temos opiniões também elas fortemente adjectivadas e, muitas vezes, fascizantes. A pobreza é como se fossem os outros, não nós, os outros, aqueles que não conseguiram, os outros portanto, outra espécie de homens que não evoluíram e que temos que ajudar de longe. Nós seres humanos não somos melhores que isto. Somos isto. Claro que somos igualmente capazes de belas e heróicas acções mas estamos longe do básico que tem séculos — Liberdade, Igualdade, Fraternidade.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Bica em chávena escaldada na Brasileira do Chiado
Magistral lição de ética política para alunos relapsos ou Cardeal Louçã acolitado pelo Bispo Jerónimo, excomungam o laico Carvalho da Silva ou...
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Silêncio
Deslocalizei o meu blogue da Índia para Portugal para poder postar (palavra feia) sobre a campanha eleitoral. Foi um mês animado e ruidoso, pobre de ideias, cheio de agitprop, rico de partilha e de leituras diversas do real. Aprendi muito na blogosfera política. Chegou a hora de voltar a localizar-me na Índia que é a origem deste blogue que tem o subtítulo simbólico de Reflexões de um Ocidental à Ilharga do Mar Arábico. Mantendo em aberto as incursões neste quotidiano chegou a hora de relocalizar-me no silêncio, num outro silêncio à ilharga de outros mares.
Silêncio é quando o meu Prana atravessa outro corpo e toca na célula descansando-a. Silêncio é encontrar o caminhos dos canais nos pântanos de músculos e nervos e prosseguir na direcção certa. Silêncio é ouvir-se respirar e expandir, ao infinito, o espaço entre inspirar e expirar. Silêncio é soltar a energia quando o perfume do Mundo se apresenta, calado, diante de nós. Silêncio é ouvir mar nas noites de marés vivas. Silêncio é quando entro dentro de mim no Tao e a energia flui.
Silêncio é quando o meu Prana atravessa outro corpo e toca na célula descansando-a. Silêncio é encontrar o caminhos dos canais nos pântanos de músculos e nervos e prosseguir na direcção certa. Silêncio é ouvir-se respirar e expandir, ao infinito, o espaço entre inspirar e expirar. Silêncio é soltar a energia quando o perfume do Mundo se apresenta, calado, diante de nós. Silêncio é ouvir mar nas noites de marés vivas. Silêncio é quando entro dentro de mim no Tao e a energia flui.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Pesquisas arqueológicas
Agora que foi “encontrada” Ardi, a bisavó de Lucy, a mais antiga antepassada do homem, em Portugal procuram-se documentos sobre a venda de submarinos. Como se discutiu na altura não podiamos passar sem submarinos. Como contar os nossos peixinhos, como visitar a colecção de búzios nacional, como combater os exércitos submarinos de Sauron ou o Lado Negro da Força sem os nossos submarinos. Estes documentos não têm quatro milhões de anos mas são tão inatingíveis como o link perdido entre o macaco e o homem. Trata-se de um pequeno buraco de 34 milhões de euros, graves suspeitas de corrupção e branqueamento. O que é isso comparado com um periscópio bem assestado sobre as forças invasoras?
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