quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Manoj Pandey
O brâmane Manoj Pandey nasceu em Bombaim e emigrou ainda jovem para Varanasi. Sendo esta cidade frequentada por uma grande população de estudantes estrangeiros que aqui passam alguns anos na produção de mestrados e doutoramentos, Manoj viu, no imobiliário, a sua grande oportunidade. Decidiu remodelar o prédio do qual era proprietário e adaptá-lo ao gosto ocidental mantendo, no entanto, a estrutura arquitectónica indiana e a sabedoria dos artesãos do sítio. As famosas e muito higiénicas “retretes turcas” foram substituídas por sanitas ao gosto ocidental com grande festa dos operários da obra; janelas com rede mosquiteira, outra inovação cuja notícia correu o bairro; peças de mármore de gosto duvidoso, posteriormente corrigido, para os tampos dos balcões da cozinha; chão de mármore, lindíssimo polido à mão; cama fabricada no lugar por uma equipa de carpinteiros com berbequim manual e ferramentas com o melhor design industrial — torneados doces para noites quentes; pintura a cal branca, azulada, fresca, transparente; luzes gigantes de néon, a morada das duas osgas permanentes — a Eulália e a Nazaré; estantes de alvenaria feitas nas paredes à moda indiana e espaço, espaço, espaço. Este apartamento completo e alugado, Manoj decidiu continuar as remodelações que se arrastaram durante anos porque ele nunca conseguia ficar em paz com as soluções encontradas. Cada vez que vagava um apartamento, Manoj iniciava obras de remodelação para o tornar mais moderno, mais ousado, sempre na vanguarda. Ao mesmo tempo, na entrada do prédio, Manoj inaugurou a primeira loja de telecomunicações do bairro — telefonemas e faxes nacionais e internacionais com facturação automática, via satélite. Tempos depois, noutra dependência, abriu uma loja de sedas que geria com o irmão e a família. Estes negócios eram dirigidos da sua cadeira preferida colocada no pátio de onde emitia ordens e instruções sobre todas as matérias relativas à construção civil, à electrónica ou à fluidez da seda de Banaras mas, não se pense, que Manoj é deficiente. Da sua cadeira encomendava pan, chá, whisky, iogurte, kachauris e outros fritos picantes, instruía os filhos sobre a escola, indicava à sua mulher Usha o que devia fazer para o jantar, dava palestras sobre politica nacional, fazia reuniões com jovens nacionalistas hindus, enxotava os macacos, chamava os riquechós, jogava Karam, fumava, lia as linhas da mão. Manoj tinha uma voz gutural, enrolada e potente. Sem esforço, comandava e ainda comanda o seu pequeno mundo em Bhelupura, Varanasi, Índia.
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