quinta-feira, 26 de março de 2009
quarta-feira, 25 de março de 2009
Geografias
Primeiro que tudo obrigado por me lerem. Não tenho respondido aos vossos comentários talvez erradamente, não sei.
Por razões várias vou antecipar a minha viagem de regresso. Esta Índia que me visita há vinte anos vai ficar de novo, suspensa. Tenho na bagagem alguns textos que gostaria de publicar ainda que, a ausência de geografia da net, possa convencer os leitores/comentadores de que continuo debaixo de uma jaca a comer pakoras quando, na realidade, já estarei num café em Lisboa. Uma vez esses textos publicados o que fazer com este blog? Mantenho o espaço com outras características? Fecho-o? Aceito as vossas sugestões. Obrigado.
domingo, 22 de março de 2009
Ganges
O bronze e o bordão, ritmam o espaço próximo do açafrão suado na descida para a água.
É a hora da madrugada. Pequenos sóis despontam em archotes de manteiga. Camas de fogo onde repousam flores, cinzas, as almas dos peregrinos.
Danças de mãos em concha restabelecem laços mitológicos. Sobre a água, rituais de panos e corpos molhados ligam o Cosmos às bocas. Preces silenciosas saturam as paisagens ribeirinhas e os corvos riscam desenhos de dor. O sândalo, incendeia-se em libertação para não voltar a renascer.
A pancada no crânio inicia o caminho da alma.
É ainda a hora da madrugada.
Da varanda sobre o Ganges irrompe o disco solar imenso, incansável, poderoso. É a hora barroca. Começa mais um dia na cidade da luz.
sexta-feira, 20 de março de 2009
Kashi, Banaras, Varanasi – última parte
e perturbam a visão e o discernimento deste real;
camadas que precisamos de apagar para poder ver,
entrar em comunhão com o real, fazer darshan, como um hindu que,
ao visualizar a divindade passa a ser a própria divindade.
Em Banaras, quando se olha o Ganges, rio sagrado,
cemitério de vacas, homens santos e crianças, que aqui corre de Sul para Norte ao contrário dos outros e do resto do seu percurso, quando se olha este rio que, imagine-se, tem golfinhos, não se entende como tanta gente toma banho ritual e saúda as águas em preces silenciosas e tão simples.
Na nossa terra o Sol põe-se do outro lado do mar.
Aqui, nasce do outro lado da água.
Quando este Sol doura as escadarias de pedra e, a imponente arquitectura que bordeja o rio faz luz nos olhos dos peregrinos e conquista a sombra da morte, aí percebemos Kaxi a luminosa, onde se vem morrer para não voltar a renascer.
Todos os dias Banaras renasce diante de nós surpreendentemente e, todos os dias, outras camadas se interpõem entre os nossos olhos e a luz. Todos os dias os corpos se desmaterializam lentamente no fogo das cremações e a construção do vazio, faz-nos pensar. Namasté Banaras, perante ti...inclino-me. Agora vou deixar-te, penso que pela última vez, depois de uma ensurdecedora corrida de táxi até ao Aeroporto de Baratpur e dentro, guardo um banco de imagens e de sensações. Muitos momentos irrepetíveis, telas sucessivas do mais puro expressionismo, mostruário da vida e da dor, lições de paciência e uma mistura dilacerante de alívio e saudade.
Sei que ainda te envolvem muitas camadas de outros reais mas
fico por aqui. Corre-se o risco, neste lugar, de ficar
para sempre à procura de entender.
terça-feira, 17 de março de 2009
Vêm aí as russas
segunda-feira, 16 de março de 2009
Kashi, Banaras, Varanasi - Parte2
progressivamente até chegar ao rosto que olha de frente, nos olhos.
Aqui olha-se nos olhos, despudoradamente, naturalmente
e sorri-se. Esta troca simples emociona. Camadas de espiritualidade encostadas a uma árvore banian em forma de tridente de ferro e pote de barro ou lingam de argila, flores e pó de sândalo.
Pedras adoçadas pela mão que as toca, pequenos oráculos, templetes onde não cabe uma pessoa ou a arquitectura religiosa no seu esplendor no templo Vishvanat.
Espiritualidade da “mão esquerda”, na atitude tântrica do aghori que desafia todas as normas, bebendo água nas caveiras que transporta, cobrindo o corpo de cinzas das cremações,
vivendo nos locais mais impuros para fortalecer o seu próprio poder.
sábado, 14 de março de 2009
Kashi, Banaras, Varanasi - Parte 1
Começou o tempo quente em Banaras. Luz e pó, som e fumo.
segunda-feira, 9 de março de 2009
Nigam
terem mergulhado no poço de Tulsi, “trocado de pele”,
atirado a infertilidade Ganga abaixo na direcção do mar.
Nigam devia ter sido chamada mulher da água.
Quando fecha os olhos castanhos, Nigam revê o poço do rio,
a água dentro da água, o silêncio.
Por isso Nigam prefere não dormir.
Quando a cidade descansa, passeia pelas ruas
com dois ou três cães por companhia. Acorda os macacos
com assobios silenciosos, descobre tudo
o que há para descobrir nas ruas de Kaxi, sabe de cor
o que dizem os cartazes de cinema, quando vai chover,
trepa às árvores para acariciar os macacos tontos de sono,
informa os ratos do próximo carregamento de farinha,
induz sonhos maravilhosos aos riquexós-wallas
que descansam em sobressalto pelo dia que se avizinha
e que ficam a sorrir dormindo, depois dela passar.
Se lhe perguntam: - Nigam onde mora o Dr. Kumar, responde:
-É fácil...passando a árvore Banian em Kachauri Gali,
volta-se para Norte depois das três cabras, caminha-se
tanto tempo quanto a formiga acarta o grão de trigo
para casa...depois há três pedras muito lisas e um ninho
de vespas...é aí.
Recebe a manhã com os pés na água;
o sol entra dentro dela e
a claridade repousa-a da noite atarefada.