segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Chocolate branco
Terão que concordar que 57% dos suíços não são racistas, apenas têm um muito apurado gosto arquitectónico. Todos sabemos que a imagem de um minarete recortado contra os Alpes é de um terrível mau gosto, apenas comparável ao de uma petite maison Suisse, recortada contra a serra da Lousã. A sombra de um minarete no Sol de Inverno, contamina a brancura imaculada de uma neve verdadeiramente suíça. Além disso, os suíços, com uma política de saúde muito desenvolvida querem impedir que os muezzins, ao subirem aos minaretes para anunciar a oração da tarde, apanhem um resfriado tipo gripe Al. Só temos que louvar esta preocupação tipicamente suíça com as comunidades islâmicas que habitam o seu território. Os detractores deste povo do relógio dizem que os suíços estão a retaliar por causa da quebra do segredo bancário no seu território enquanto que o sistema Hawala continua a prosperar nos países islâmicos. Em todo o caso, a partir de agora, vou passar a comer apenas chocolate branco, suíço, claro.
À tripa forra
Na Ordem dos Advogados o bastonário diz que não se pode gastar à tripa forra; o Sindicato dos Magistrados, (estrutura totalmente aberrante e inexplicável), quer que as escutas privadas sejam públicas; um alto militante do PSD que por acaso também é professor de direito, acha que o povo português não vai dormir descansado e vai ficar ainda mais deprimido, se não ouvir o que Sócrates disse a Vara; o chefe do Supremo mandou destruir as escutas por não conterem indícios mas ninguém liga nenhuma; o Procurador Geral desta República diz que será então num próximo Sábado, de vários Sábados que vai tomar uma posição; Jerónimo diz que é preciso guardar os CD para memória futura; os vários jornais desdobram-se em contactos anónimos para obterem alguns bytes da informação contida nas gravações; imprime-se papel à conta da informação que um amigo do amigo do amigo do amigo do porteiro diz que disse; os julgamentos dos processos de pedofilia já duram há 5 (cinco) anos; o processo Face Oculta irá durar (é um palpite) dez anos até a sucata enferrujar completamente; o marido macho mata a mulher e um GNR “por amor”; D. Sebastião não chegou na mais recente manhã de nevoeiro; Portugal não ganhou o Euromilhões; já nem falo da crise; decorre a Cimeira Ibero-americana sobre inovação e conhecimento ... MAIS INOVAÇÃO???
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Manoj Pandey
O brâmane Manoj Pandey nasceu em Bombaim e emigrou ainda jovem para Varanasi. Sendo esta cidade frequentada por uma grande população de estudantes estrangeiros que aqui passam alguns anos na produção de mestrados e doutoramentos, Manoj viu, no imobiliário, a sua grande oportunidade. Decidiu remodelar o prédio do qual era proprietário e adaptá-lo ao gosto ocidental mantendo, no entanto, a estrutura arquitectónica indiana e a sabedoria dos artesãos do sítio. As famosas e muito higiénicas “retretes turcas” foram substituídas por sanitas ao gosto ocidental com grande festa dos operários da obra; janelas com rede mosquiteira, outra inovação cuja notícia correu o bairro; peças de mármore de gosto duvidoso, posteriormente corrigido, para os tampos dos balcões da cozinha; chão de mármore, lindíssimo polido à mão; cama fabricada no lugar por uma equipa de carpinteiros com berbequim manual e ferramentas com o melhor design industrial — torneados doces para noites quentes; pintura a cal branca, azulada, fresca, transparente; luzes gigantes de néon, a morada das duas osgas permanentes — a Eulália e a Nazaré; estantes de alvenaria feitas nas paredes à moda indiana e espaço, espaço, espaço. Este apartamento completo e alugado, Manoj decidiu continuar as remodelações que se arrastaram durante anos porque ele nunca conseguia ficar em paz com as soluções encontradas. Cada vez que vagava um apartamento, Manoj iniciava obras de remodelação para o tornar mais moderno, mais ousado, sempre na vanguarda. Ao mesmo tempo, na entrada do prédio, Manoj inaugurou a primeira loja de telecomunicações do bairro — telefonemas e faxes nacionais e internacionais com facturação automática, via satélite. Tempos depois, noutra dependência, abriu uma loja de sedas que geria com o irmão e a família. Estes negócios eram dirigidos da sua cadeira preferida colocada no pátio de onde emitia ordens e instruções sobre todas as matérias relativas à construção civil, à electrónica ou à fluidez da seda de Banaras mas, não se pense, que Manoj é deficiente. Da sua cadeira encomendava pan, chá, whisky, iogurte, kachauris e outros fritos picantes, instruía os filhos sobre a escola, indicava à sua mulher Usha o que devia fazer para o jantar, dava palestras sobre politica nacional, fazia reuniões com jovens nacionalistas hindus, enxotava os macacos, chamava os riquechós, jogava Karam, fumava, lia as linhas da mão. Manoj tinha uma voz gutural, enrolada e potente. Sem esforço, comandava e ainda comanda o seu pequeno mundo em Bhelupura, Varanasi, Índia.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Rama nama satya hé
“Primeiro o vazio;
Segundo a semente;
Terceiro a emanação da imagem;
Quarto a articulação da sílaba;
Quinto a plenitude do vazio.”
Hevajra Tantra
Rama nama satya hé.
Este mantra – o nome de Deus é verdade -
ouve-se frequentemente nas ruas de Banaras e
acompanha os defuntos até ao rio Ganges
onde são imersos antes da cremação.
Este mantra – o nome de Deus é verdade -
ouve-se frequentemente nas ruas de Banaras e
acompanha os defuntos até ao rio Ganges
onde são imersos antes da cremação.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Um desafio para cinco revelações
Este desafio enviado por Ana Paula Fitas do A Nossa Candeia consiste em os bloggers que o queiram aceitar, procedam da seguinte forma:
1 - Seguir as Regras;
2 - Colocar o selo no início da mensagem que indica quem está, quem esteve, ou estará na brincadeira;
3 - Completar as 5 frases seguintes:
Eu já tive... gripe asiática;
Eu nunca... me vacinei contra as várias mutações do Poder;
Eu sei... que gostava de entender o pré Big Bang e o pós 25 de Abril;
Eu quero... silêncio mesmo dentro do ruído;
Eu sonho... que é fixe haver aviões.
sábado, 21 de novembro de 2009
Paciência
Contribuição ainda que tardia para o tema da tolerância colocado oportunamente pelo A Nossa Candeia. É uma tradução livre de um excerto do livro Meditation in Action do Mestre Tibetano Chögyam Trungpa.
— ...Quem desenvolve competências para ser paciente, não espera nada de ninguém, não porque não confie mas porque sabe como estar no centro. Assim, para obter o silêncio, não enxota os pássaros que fazem barulho. Para ficar quieto, não para o movimento do ar ou do rio mas aceita-os e, assim, fica consciente do silêncio. Aceita-os como parte do processo para chegar ao silêncio. Portanto, o aspecto mental do ruído dos pássaros afecta a sua psicologia. Por outras palavras o ruído dos pássaros é um dos factores, a nossa concepção psicológica do ruído é outro. Quando se consegue lidar com esse lado, o ruído dos pássaros torna-se silêncio audível. Deste modo não se deve esperar nada do exterior, não se deve tentar mudar a outra pessoa ou as suas opiniões. Não se deve tentar convencer ninguém numa altura não apropriada, quando as opiniões do outro estão fortemente consolidadas, quando as nossas palavras não conseguem penetrar. Como exemplo há o das duas pessoas que caminham ao longo de uma estrada pedregosa. Uma delas diz que seria muito bom se a estrada fosse toda revestida de couro e assim seria fácil a caminhada. A outra, pelo contrário, acha que bastaria proteger os pés com couro para que o efeito fosse o mesmo. Isto é a paciência; não se trata de não ter confiança mas sim de não esperar nada exterior a nós e não tentar mudar a situação fora de nós. Esta é a única maneira de criar paz no Mundo. Se nós próprios estamos dispostos a fazer isso no nosso íntimo então alguém mais o fará e, certamente, mais cem o farão... —
— ...Quem desenvolve competências para ser paciente, não espera nada de ninguém, não porque não confie mas porque sabe como estar no centro. Assim, para obter o silêncio, não enxota os pássaros que fazem barulho. Para ficar quieto, não para o movimento do ar ou do rio mas aceita-os e, assim, fica consciente do silêncio. Aceita-os como parte do processo para chegar ao silêncio. Portanto, o aspecto mental do ruído dos pássaros afecta a sua psicologia. Por outras palavras o ruído dos pássaros é um dos factores, a nossa concepção psicológica do ruído é outro. Quando se consegue lidar com esse lado, o ruído dos pássaros torna-se silêncio audível. Deste modo não se deve esperar nada do exterior, não se deve tentar mudar a outra pessoa ou as suas opiniões. Não se deve tentar convencer ninguém numa altura não apropriada, quando as opiniões do outro estão fortemente consolidadas, quando as nossas palavras não conseguem penetrar. Como exemplo há o das duas pessoas que caminham ao longo de uma estrada pedregosa. Uma delas diz que seria muito bom se a estrada fosse toda revestida de couro e assim seria fácil a caminhada. A outra, pelo contrário, acha que bastaria proteger os pés com couro para que o efeito fosse o mesmo. Isto é a paciência; não se trata de não ter confiança mas sim de não esperar nada exterior a nós e não tentar mudar a situação fora de nós. Esta é a única maneira de criar paz no Mundo. Se nós próprios estamos dispostos a fazer isso no nosso íntimo então alguém mais o fará e, certamente, mais cem o farão... —
O Povo em três capítulos — Capítulo III
Coube ao agente SCUD a tarefa mais espinhosa: o povo da estrada.
Para analisar o povo da estrada é preciso andar na estrada e, para isso, comprar um carro. E aqui começa a saga: que carro comprar? São todos oferecidos. Alguns só se começam a pagar 5 anos depois. Os juros são transformados em viagens aos trópicos, relógios ou langerie. O agente SCUD estava confuso e a sua primeira conclusão foi que, neste país, só não tem carro quem não quer porque tudo são facilidades e os vendedores até têm alguma relutância em aceitar o nosso dinheiro. Mas, finalmente, e com o acordo da sede, lá se decidiu adquirir um Tuga RVSX500TDPLUS+SPORT carro relativamente económico, pagável em 500 meses, com o IVA convertível em acções do Tesouro. A única desvantagem eram os extras: pneus, bateria e carburador tinham que ser pagos à parte e a pronto. Mas enfim, a sede lá desbloqueou algumas verbas da venda de património militar e tudo se compôs.
Numa bela manhã o conjunto SCUD - Tuga RVSX500TDPLUS+SPORT, fez-se à estrada.
O agente SCUD ligou o rádio e começou a gravar, para análise futura, o programa sobre o trânsito. Espantado percebeu que aquela linguagem cifrada era seguramente proveniente dos serviços de contra espionagem do país para lhe dificultar a tarefa. Gravou o programa para ouvir numa reunião, que imediatamente marcou com os seus colegas MOT e ACUT, deixando para tal uma mensagem numa estação de serviço junto à bomba do gasóleo EcoPlusMaisMais, conforme previamente acordado. Ainda não seria hoje que a estrada o embalaria, resmungou contristado o agente SCUD.
Extracto da gravação efectuada nesse dia:”...da a4 para a a5, da vci para a crel, da crel para o ic8 e do ic8 para o ip5, do ip5 para a cril, da cril para o túnel do grilo onde há nevoeiro. A Norte da ic19 para a 25 de Abril, de Bartolomeu Dias para a Vasco da Gama, da Vasco da Gama para a a1...
Os 3 agentes ouviram repetidamente esta gravação, de trás para a frente, da frente para trás, em baixa velocidade, com eco, sem eco e nada. Pensaram para si que este país tem uma contra espionagem que alto lá com ela! Prolongado silêncio quebrado pelo agente SCUD que disse que o melhor era mandar a gravação codificada pelos canais apropriados e esperar uma decifração. Até lá, este agente, limitar-se-ia a circular nas auto estradas não se arriscando a frequentar outras vias por demasiado perigosas e, seguramente, vigiadas. Despediram-se com o compromisso de não se voltarem a reunir por ser demasiado perigoso e podendo pôr em risco a missão.
Algumas notas de asfalto do agente SCUD:
O povo da estrada não estaciona, pousa delicadamente os automóveis em cima do passeio.
O povo da estrada cruza as passadeiras depressa pedindo desculpa aos peões assustados. O povo da estrada é delicado.
O povo da estrada não apita, usa o claxon às 4 da manhã para o amigo vir à janela ver o último modelo de telemóvel. O povo da estrada não gosta de passar à frente de ninguém por isso fica numa fila interminável quando pode fazer duas. É também por isso que o povo da estrada não gosta da Via Verde mas ocupa essa via porque gosta de partilhar o tempo de espera.
O povo da estrada gosta de se colar à traseira do automóvel da frente. É um modo envergonhado de expressar os seus apetites sexuais.
O povo da estrada é lascivo mas tímido.
O povo da auto-estrada, obedecendo escrupulosamente ao conceito de prioridade à direita, anda na faixa da esquerda mais lentamente.
O povo da estrada conhece e cumpre o código.
O povo da estrada não usa os piscas para poupar energia que tanto dinheiro custa ao país. O povo da estrada adora parar intempestivamente de qualquer maneira e em qualquer lugar para comprar melões e cebolas mais caros do que os que se vendem na sua rua.
É uma maneira discreta e sábia de ajudar a PAC e de testar a atenção de quem vem atrás.
O povo da estrada não gosta de morrer em casa, isso é para maricas, mas sim com as trombas no airbag, o pé no ABS e a mão no telemóvel.
O povo da estrada é muito comunicativo.
O agente SCUD releu pela quinta vez a missiva codificada proveniente dos seu serviços:
“Vasco da Gama e 25 de Abril sabemos o significado embora aqui não se aplique. As restantes palavras armadilhadas permanecem desconhecidas e perigosas. Abortar missão”
E foi assim que, por motivos de ordem técnica, os 3 agentes foram forçados a regressar ao seu país.
Que me desculpem os meus amigos que apanham a azeitona que vão à cortiça e que plantam as abóboras mais lindas do Mundo. Cerca de 70% da nossa população vive nas cidades. Havia um quarto agente, confesso, o agente Orvalho mas, apaixonou-se pelo campo e desapareceu nas neblinas, por isso não temos o seu relatório.
FIM
Para analisar o povo da estrada é preciso andar na estrada e, para isso, comprar um carro. E aqui começa a saga: que carro comprar? São todos oferecidos. Alguns só se começam a pagar 5 anos depois. Os juros são transformados em viagens aos trópicos, relógios ou langerie. O agente SCUD estava confuso e a sua primeira conclusão foi que, neste país, só não tem carro quem não quer porque tudo são facilidades e os vendedores até têm alguma relutância em aceitar o nosso dinheiro. Mas, finalmente, e com o acordo da sede, lá se decidiu adquirir um Tuga RVSX500TDPLUS+SPORT carro relativamente económico, pagável em 500 meses, com o IVA convertível em acções do Tesouro. A única desvantagem eram os extras: pneus, bateria e carburador tinham que ser pagos à parte e a pronto. Mas enfim, a sede lá desbloqueou algumas verbas da venda de património militar e tudo se compôs.
Numa bela manhã o conjunto SCUD - Tuga RVSX500TDPLUS+SPORT, fez-se à estrada.
O agente SCUD ligou o rádio e começou a gravar, para análise futura, o programa sobre o trânsito. Espantado percebeu que aquela linguagem cifrada era seguramente proveniente dos serviços de contra espionagem do país para lhe dificultar a tarefa. Gravou o programa para ouvir numa reunião, que imediatamente marcou com os seus colegas MOT e ACUT, deixando para tal uma mensagem numa estação de serviço junto à bomba do gasóleo EcoPlusMaisMais, conforme previamente acordado. Ainda não seria hoje que a estrada o embalaria, resmungou contristado o agente SCUD.
Extracto da gravação efectuada nesse dia:”...da a4 para a a5, da vci para a crel, da crel para o ic8 e do ic8 para o ip5, do ip5 para a cril, da cril para o túnel do grilo onde há nevoeiro. A Norte da ic19 para a 25 de Abril, de Bartolomeu Dias para a Vasco da Gama, da Vasco da Gama para a a1...
Os 3 agentes ouviram repetidamente esta gravação, de trás para a frente, da frente para trás, em baixa velocidade, com eco, sem eco e nada. Pensaram para si que este país tem uma contra espionagem que alto lá com ela! Prolongado silêncio quebrado pelo agente SCUD que disse que o melhor era mandar a gravação codificada pelos canais apropriados e esperar uma decifração. Até lá, este agente, limitar-se-ia a circular nas auto estradas não se arriscando a frequentar outras vias por demasiado perigosas e, seguramente, vigiadas. Despediram-se com o compromisso de não se voltarem a reunir por ser demasiado perigoso e podendo pôr em risco a missão.
Algumas notas de asfalto do agente SCUD:
O povo da estrada não estaciona, pousa delicadamente os automóveis em cima do passeio.
O povo da estrada cruza as passadeiras depressa pedindo desculpa aos peões assustados. O povo da estrada é delicado.
O povo da estrada não apita, usa o claxon às 4 da manhã para o amigo vir à janela ver o último modelo de telemóvel. O povo da estrada não gosta de passar à frente de ninguém por isso fica numa fila interminável quando pode fazer duas. É também por isso que o povo da estrada não gosta da Via Verde mas ocupa essa via porque gosta de partilhar o tempo de espera.
O povo da estrada gosta de se colar à traseira do automóvel da frente. É um modo envergonhado de expressar os seus apetites sexuais.
O povo da estrada é lascivo mas tímido.
O povo da auto-estrada, obedecendo escrupulosamente ao conceito de prioridade à direita, anda na faixa da esquerda mais lentamente.
O povo da estrada conhece e cumpre o código.
O povo da estrada não usa os piscas para poupar energia que tanto dinheiro custa ao país. O povo da estrada adora parar intempestivamente de qualquer maneira e em qualquer lugar para comprar melões e cebolas mais caros do que os que se vendem na sua rua.
É uma maneira discreta e sábia de ajudar a PAC e de testar a atenção de quem vem atrás.
O povo da estrada não gosta de morrer em casa, isso é para maricas, mas sim com as trombas no airbag, o pé no ABS e a mão no telemóvel.
O povo da estrada é muito comunicativo.
O agente SCUD releu pela quinta vez a missiva codificada proveniente dos seu serviços:
“Vasco da Gama e 25 de Abril sabemos o significado embora aqui não se aplique. As restantes palavras armadilhadas permanecem desconhecidas e perigosas. Abortar missão”
E foi assim que, por motivos de ordem técnica, os 3 agentes foram forçados a regressar ao seu país.
Que me desculpem os meus amigos que apanham a azeitona que vão à cortiça e que plantam as abóboras mais lindas do Mundo. Cerca de 70% da nossa população vive nas cidades. Havia um quarto agente, confesso, o agente Orvalho mas, apaixonou-se pelo campo e desapareceu nas neblinas, por isso não temos o seu relatório.
FIM
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
O Povo em três capítulos — Capítulo II
O agente Por Motivos de Ordem Técnica (a partir de agora MOT), começou por procurar casa junto de uma estação de Metro. Não foi fácil mas lá conseguiu arranjar um pequeno duas assoalhadas próximo da estação de Amadora Este Colégio Militar Luz. Pré comprou bilhetes, recargas de passe, uma mochila e preparou-se para passar claustrofóbicos dias. Habitualmente era agente de superfície mas esta missão subterrânea ia permitir-lhe uma promoção e, por isso, valia a pena o sacrifício. Começou por estudar as horas de ponta e os fluxos humanos na estação do Marquês de Pombal. Fotografou, entrevistou, analisou, anotou, fez desenhos esquemáticos, diagramas que enviou para a sede. Esperou o correio diplomático com algumas indicações rigorosas para poder operar no terreno com alguma base teórica. No fim do segundo mês, recebeu dois relatórios codificados provenientes de duas das mais famosas universidades do seu país. A conclusão era unânime: apenas a teoria do caos explicava, ainda que incompletamente, o movimento de passageiros e o desenho da estação do Marquês. Era, segundo os peritos, uma obra muito avançada e seriam precisos alguns anos de investigação no domínio da física quântica para encontrar um modelo plausível e compreensível para aquele projecto. Até lá o agente deveria fazer investigação menos fundamental e percorrer as várias estações de modo a obter dados para conclusões mais mensuráveis. Assim fez MOT e foram estas as suas conclusões:
O povo do metro caracteriza-se pela sua postura parada e meditativa do lado de fora e do lado de dentro das carruagens onde constitui uma barreira intransponível de energia primitiva. O povo do metro não se mexe, desloca-se parado, a carruagem que se mexa. Assim sendo não faz mais que seguir as mensagens publicitárias – nós levamo-lo a todo o lado. O agente MOT, por várias vezes, não conseguiu descer na estação onde queria porque um muro da tal energia primitiva, impedia de o fazer e, não querendo ser mal educado empurrando blocos de pensamento profundo, preferiu descer na seguinte o que, diga-se de passagem, prejudicou o seu estudo. O povo do metro lê o Metro o que dá uma grande unidade de estilo neste mundo subterrâneo e torna profundas as referências superficiais. O povo do metro, quando tem espaço, o que vai sendo cada vez mais difícil, gosta de estender o sapato para o banco da frente, introduzindo deste modo um cromatismo mais viscoso e orgânico nos tecidos industriais e pouco amigáveis dos bancos. São pequenas performances sempre agradáveis, sempre de vanguarda. O povo do metro é artista. O agente MOT fotografou vários conjuntos pictóricos murais grafitados de profundo significado artísticósemânticósimbólico. Alguns destes exemplos ilustram a capa do seu relatório de investigação e já circulam na Net, ainda que contra a sua vontade. Destaco dois: “esta é a minha assinatura fo...-se” e, “esta é a minha outra assinatura fo...-se”. Os outros podem ser pesquisados em www.fabioamavanessa.org. Nas centenas de viagens que o agente MOT realizou, observou a grande preocupação que o outro povo do metro tem com as escadas e tapetes rolantes. Para não se avariarem estão sempre a ser reparados o que prova o respeito deste povo pela conservação das suas coisas. Para o estudo do agente MOT, este facto, prejudicou-o porque assim não foi possível tirar grandes conclusões sobre o funcionamento destes equipamentos. Observou ainda aquilo a que chamou sinergia construtiva e que consiste no aproveitamento de muitos corredores de acesso às estações para testes de aerodinâmica. As companhias aéreas e os construtores de automóveis do país instalam aí os seus produtos para medir as turbulências causadas pelos túneis de vento e fazerem testes científicos de resistência de materiais, tal é a corrente de ar nos locais. Uma outra coisa que animou o agente MOT neste estudo foi o facto de haver música em todas as estações. E à medida que as carruagens se aproximam, música cada vez mais alta...eles pensam em tudo concluiu o agente. No seu país a defesa do silêncio é uma política de estado, transformando as casas, as ruas, os transportes em algo sem interesse parecido com bibliotecas. O capítulo final do relatório do agente MOT, recebeu os mais rasgados elogios da sua hierarquia pela sagacidade, sensatez, profundidade e pontes para o futuro que a sua análise revelou. Refere-se ele ao desenho da rede metro e ao facto de esta rede não comunicar com o aeroporto na cidade capital do país. Segundo as conclusões do agente MOT, ligar o metro com o terminal de aviões revela-se nefasto e desaconselhável. Quando assim acontece, caso das outras capitais europeias, o risco de atentados aumenta exponencialmente; os passageiros que vêm do ar, sujeitos a uma determinada pressão atmosférica quando encaixados em carruagens subterrâneas podem sofrer embolias, sendo que o contrário é igualmente verificável; a corporação taxiaeroporto, SASR (sociedade anónima sem responsabilidade), iria à falência, aumentando o desemprego e a crise; ir do aeroporto à baixa de Lisboa não passando por Cascais revelaria falta de visão turística e, como tal, nacional. Assim concluiu e bem, o agente MOT.
O povo do metro caracteriza-se pela sua postura parada e meditativa do lado de fora e do lado de dentro das carruagens onde constitui uma barreira intransponível de energia primitiva. O povo do metro não se mexe, desloca-se parado, a carruagem que se mexa. Assim sendo não faz mais que seguir as mensagens publicitárias – nós levamo-lo a todo o lado. O agente MOT, por várias vezes, não conseguiu descer na estação onde queria porque um muro da tal energia primitiva, impedia de o fazer e, não querendo ser mal educado empurrando blocos de pensamento profundo, preferiu descer na seguinte o que, diga-se de passagem, prejudicou o seu estudo. O povo do metro lê o Metro o que dá uma grande unidade de estilo neste mundo subterrâneo e torna profundas as referências superficiais. O povo do metro, quando tem espaço, o que vai sendo cada vez mais difícil, gosta de estender o sapato para o banco da frente, introduzindo deste modo um cromatismo mais viscoso e orgânico nos tecidos industriais e pouco amigáveis dos bancos. São pequenas performances sempre agradáveis, sempre de vanguarda. O povo do metro é artista. O agente MOT fotografou vários conjuntos pictóricos murais grafitados de profundo significado artísticósemânticósimbólico. Alguns destes exemplos ilustram a capa do seu relatório de investigação e já circulam na Net, ainda que contra a sua vontade. Destaco dois: “esta é a minha assinatura fo...-se” e, “esta é a minha outra assinatura fo...-se”. Os outros podem ser pesquisados em www.fabioamavanessa.org. Nas centenas de viagens que o agente MOT realizou, observou a grande preocupação que o outro povo do metro tem com as escadas e tapetes rolantes. Para não se avariarem estão sempre a ser reparados o que prova o respeito deste povo pela conservação das suas coisas. Para o estudo do agente MOT, este facto, prejudicou-o porque assim não foi possível tirar grandes conclusões sobre o funcionamento destes equipamentos. Observou ainda aquilo a que chamou sinergia construtiva e que consiste no aproveitamento de muitos corredores de acesso às estações para testes de aerodinâmica. As companhias aéreas e os construtores de automóveis do país instalam aí os seus produtos para medir as turbulências causadas pelos túneis de vento e fazerem testes científicos de resistência de materiais, tal é a corrente de ar nos locais. Uma outra coisa que animou o agente MOT neste estudo foi o facto de haver música em todas as estações. E à medida que as carruagens se aproximam, música cada vez mais alta...eles pensam em tudo concluiu o agente. No seu país a defesa do silêncio é uma política de estado, transformando as casas, as ruas, os transportes em algo sem interesse parecido com bibliotecas. O capítulo final do relatório do agente MOT, recebeu os mais rasgados elogios da sua hierarquia pela sagacidade, sensatez, profundidade e pontes para o futuro que a sua análise revelou. Refere-se ele ao desenho da rede metro e ao facto de esta rede não comunicar com o aeroporto na cidade capital do país. Segundo as conclusões do agente MOT, ligar o metro com o terminal de aviões revela-se nefasto e desaconselhável. Quando assim acontece, caso das outras capitais europeias, o risco de atentados aumenta exponencialmente; os passageiros que vêm do ar, sujeitos a uma determinada pressão atmosférica quando encaixados em carruagens subterrâneas podem sofrer embolias, sendo que o contrário é igualmente verificável; a corporação taxiaeroporto, SASR (sociedade anónima sem responsabilidade), iria à falência, aumentando o desemprego e a crise; ir do aeroporto à baixa de Lisboa não passando por Cascais revelaria falta de visão turística e, como tal, nacional. Assim concluiu e bem, o agente MOT.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Digam-me como se faz
O desemprego está nos 10%. Oiço todos os dias grandes tiradas político-ideológicas sobre esta questão. Digam-me como se faz. Insto os partidos PSD, PC, Bloco e CDS, porque são estes os grandes paladinos de soluções e porque é o PS que está no Governo. Se fosse outra a composição do leque político a minha pergunta seria rigorosamente a mesma: digam-me como se faz. Mas digam-me objectivamente, tipo 3 medidas que diminuam o desemprego para 7% em três meses. Digam-me como se eu tivesse onze anos. Vão tomar de assalto os empresários e obriga-los a fazer empresas na meia hora e contratar muitos trabalhadores?
Vão fretar navios armados e descarregar produtos de fabrico nacional na China, na Índia, na África com protecção da ONU, para aumentar as exportações rapidamente?
Vão sequestrar as multinacionais e obriga-las a produzir não só automóveis mas também pasta de dentes, detergentes, gestores, tudo isto empregando 30% dos desempregados de cada Centro de Emprego?
Vão fundar centenas de micro-nano-pequenas empresas para produzirem, por exemplo, coreografias para as festas autárquicas? Sei lá!
Digam-me como se faz que eu sou um cidadão estúpido, ainda mais estúpido por ser de esquerda. Tenho verdadeiras lacunas na teoria económica e não entendo esta cena da globalização. Mas digam-me como se faz, façam-me feliz e dêem emprego a 200.000 portugueses antes da Primavera. Vá lá senhores sejam os verdadeiros messias universais!
Ensinem todos esses políticos da treta que vemos na televisão tipo Obama, Merkl, Sarkozy (que horror!!!), sim ensinem-nos como o Portuga tem sempre soluções. Mundo, be cool... o Portuga resolve, Portugal will get you a job.
Vão fretar navios armados e descarregar produtos de fabrico nacional na China, na Índia, na África com protecção da ONU, para aumentar as exportações rapidamente?
Vão sequestrar as multinacionais e obriga-las a produzir não só automóveis mas também pasta de dentes, detergentes, gestores, tudo isto empregando 30% dos desempregados de cada Centro de Emprego?
Vão fundar centenas de micro-nano-pequenas empresas para produzirem, por exemplo, coreografias para as festas autárquicas? Sei lá!
Digam-me como se faz que eu sou um cidadão estúpido, ainda mais estúpido por ser de esquerda. Tenho verdadeiras lacunas na teoria económica e não entendo esta cena da globalização. Mas digam-me como se faz, façam-me feliz e dêem emprego a 200.000 portugueses antes da Primavera. Vá lá senhores sejam os verdadeiros messias universais!
Ensinem todos esses políticos da treta que vemos na televisão tipo Obama, Merkl, Sarkozy (que horror!!!), sim ensinem-nos como o Portuga tem sempre soluções. Mundo, be cool... o Portuga resolve, Portugal will get you a job.
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
O Povo em três capítulos — Capítulo I
A República Democrática Democrática da Transkasakávia (de notar que isto se passa após a queda da Grande Muralha), decidiu enviar espiões para várias partes do Mundo com o objectivo de diagnosticar culturas, sociedades, economias, modos de estar e pensar. Pretendia-se uma fotografia clara dos contextos geopolíticos que pudesse informar os decisores com objectividade e segurança. Assim foi feito no maior dos segredos como é usual nestas actividades.
A estes agentes apenas interessava a Europa sem estrelas, isto é, a Europa antropológica, residual e profunda que mantinha intactas as características socioculturais apesar da globalização. Por isso para a Europa do Sul, designada Unitat Lusos, foram enviados 3 agentes todos eles conhecedores profundos das línguas e literaturas regionais. Faltava-lhes, no entanto, um conhecimento mais próximo do real que esperavam não ser limitador da operação a que se propunham.
Viajaram separadamente e combinaram encontrar-se no Chiado Lissabon onde lhes seriam distribuídos os envelopes com as respectivas missões. Foi isto feito à mesa com Fernando Pessoa e galão, numa tarde de Sol frio de Novembro com cheiro a petróleo de castanhas assadas no ar o que muito os espantou e tomaram as primeiras notas de campo. Os envelopes apontavam os alvos: povo da bola, povo do metro e o povo da estrada.
Ao agente Acutilante (nome fictício) foi atribuída a análise do povo da bola.
Ao agente Por Motivos de Ordem Técnica (outro nome fictício), a compreensão e estudo do povo do metro.
Ao agente SCUD (ainda outro nome fictício), a descodificação alargada do povo da estrada.
O agente Acutilante (a partir de agora ACUT), perante esta importante missão, procurou preparar-se o melhor possível como era aliás seu costume. Assim sendo, comprou durante algum tempo os 3 jornais desportivos diários para se inteirar do dialecto futebolês. Isto causou-lhe algum desequilíbrio orçamental a par de um domínio notável de uma nova e esotérica terminologia. Os seus relatórios para a casa-mãe simultaneamente encantavam e deixavam perplexo o seu supervisor por uma tão cerrada, agreste, pressionante e tacticamente perfeita organização. ACUT no terreno tinha sempre dúvidas sobre que camisola e cachecol comprar, a que Banco fazer publicidade, qual a melhor atitude de marketing naquele contexto. Fora isso, a integração era perfeita e nenhuma claque jamais viu nele um espião a soldo de uma potência estrangeira. O seu relatório final é de uma clareza meridiana e de uma racionalidade irrepreensível. Passou a integrar, como objecto de estudo, o Manual do Espião Democrático Democrático. Vejamos:
O povo da bola não compra jornais mas lê o Oje, o Metro e, Globalmente, o do parceiro.
O povo da bola abstêm-se nas eleições e nos referendos mas cospe para o chão.
O povo da bola compra bandeiras pátrias com pagodes chineses e veste verde rubro em nádegas gordas.
O povo da bola tem palavrão fácil e racista contra os adversários.
O povo da bola é fanático e histérico na impertinente buzinadela, prolongando o pénis sem condom na mais alta taxa de progressão da Sida na Europa.
O povo da bola anda distraído e infantil com a bola.
O povo da bola enche os estádios mas não os teatros.
O povo da bola só tem a bola para se agarrar como um guarda-redes de uma pátria em decadência.
O povo da bola adora as fintas das vedetas como se fossem suas e protagoniza-se nas câmaras de TV em puro estado de choque mas com lenço na cabeça e gesso no calcanhar.
No dia anterior o povo da bola não trabalha, analisa e comenta.
No dia seguinte o povo da bola não trabalha, comenta e analisa.
O povo da bola organiza-se em gangues e conquista campos de batalha nas cidades.
Brigadas especiais da Câmara Municipal, recolhem o lixo da noite, outras brigadas especiais reparam os estragos.
O povo da bola levanta-se mais tarde porque ficou tonto de tantas voltas ao Marquês de Pombal.
A estes agentes apenas interessava a Europa sem estrelas, isto é, a Europa antropológica, residual e profunda que mantinha intactas as características socioculturais apesar da globalização. Por isso para a Europa do Sul, designada Unitat Lusos, foram enviados 3 agentes todos eles conhecedores profundos das línguas e literaturas regionais. Faltava-lhes, no entanto, um conhecimento mais próximo do real que esperavam não ser limitador da operação a que se propunham.
Viajaram separadamente e combinaram encontrar-se no Chiado Lissabon onde lhes seriam distribuídos os envelopes com as respectivas missões. Foi isto feito à mesa com Fernando Pessoa e galão, numa tarde de Sol frio de Novembro com cheiro a petróleo de castanhas assadas no ar o que muito os espantou e tomaram as primeiras notas de campo. Os envelopes apontavam os alvos: povo da bola, povo do metro e o povo da estrada.
Ao agente Acutilante (nome fictício) foi atribuída a análise do povo da bola.
Ao agente Por Motivos de Ordem Técnica (outro nome fictício), a compreensão e estudo do povo do metro.
Ao agente SCUD (ainda outro nome fictício), a descodificação alargada do povo da estrada.
O agente Acutilante (a partir de agora ACUT), perante esta importante missão, procurou preparar-se o melhor possível como era aliás seu costume. Assim sendo, comprou durante algum tempo os 3 jornais desportivos diários para se inteirar do dialecto futebolês. Isto causou-lhe algum desequilíbrio orçamental a par de um domínio notável de uma nova e esotérica terminologia. Os seus relatórios para a casa-mãe simultaneamente encantavam e deixavam perplexo o seu supervisor por uma tão cerrada, agreste, pressionante e tacticamente perfeita organização. ACUT no terreno tinha sempre dúvidas sobre que camisola e cachecol comprar, a que Banco fazer publicidade, qual a melhor atitude de marketing naquele contexto. Fora isso, a integração era perfeita e nenhuma claque jamais viu nele um espião a soldo de uma potência estrangeira. O seu relatório final é de uma clareza meridiana e de uma racionalidade irrepreensível. Passou a integrar, como objecto de estudo, o Manual do Espião Democrático Democrático. Vejamos:
O povo da bola não compra jornais mas lê o Oje, o Metro e, Globalmente, o do parceiro.
O povo da bola abstêm-se nas eleições e nos referendos mas cospe para o chão.
O povo da bola compra bandeiras pátrias com pagodes chineses e veste verde rubro em nádegas gordas.
O povo da bola tem palavrão fácil e racista contra os adversários.
O povo da bola é fanático e histérico na impertinente buzinadela, prolongando o pénis sem condom na mais alta taxa de progressão da Sida na Europa.
O povo da bola anda distraído e infantil com a bola.
O povo da bola enche os estádios mas não os teatros.
O povo da bola só tem a bola para se agarrar como um guarda-redes de uma pátria em decadência.
O povo da bola adora as fintas das vedetas como se fossem suas e protagoniza-se nas câmaras de TV em puro estado de choque mas com lenço na cabeça e gesso no calcanhar.
No dia anterior o povo da bola não trabalha, analisa e comenta.
No dia seguinte o povo da bola não trabalha, comenta e analisa.
O povo da bola organiza-se em gangues e conquista campos de batalha nas cidades.
Brigadas especiais da Câmara Municipal, recolhem o lixo da noite, outras brigadas especiais reparam os estragos.
O povo da bola levanta-se mais tarde porque ficou tonto de tantas voltas ao Marquês de Pombal.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Ciclone dos Açores
Acabo de ouvir na rádio uma curiosa notícia: Governo Regional dos Açores retido três dias no Corvo devido ao mau tempo. Com este argumento o que não fariam em Hollywood ou Bollywood. Imagino as conversas à beira do extinto vulcão com os corvinos, a troca de opiniões, as decisões difíceis, as promessas. Tempos de crise estes em que até os Governos se deslocalizam para exercer a tão falada política de proximidade. Nem o anti-ciclone resistiu e foi substituído por, elas também deslocalizadas das Caraíbas, nuvens verticais que assolaram a piedosa intenção de reunir naquela ilha longínqua. Nos mares dos Açores há a actividade de observação de baleias. Suspeito que já se estejam a formar empresas na hora para observar o Governo Regional a reunir nas ilhas mais afastadas.
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
O pensamento civilizado
De Claude Lévi-Strauss guardo um conjunto de leituras que me ajudou a entender melhor o outro homem que é uma parte de nós que não conseguimos (queremos?) perceber. Guardo, sobretudo, o entendimento do devir do Mundo e das coisas, da plasticidade do homem. Quando perguntado numa entrevista qual, estando rodeado de tantos objectos, seria para ele o mais importante ou do qual gostaria mais, Lévi-Strauss pergunta: mas a que hora do dia, com que luz, com que disposição estaria, em que sítio? Veja aqui alguns desses objectos.
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Provérbios populares
Eu sou daqueles que acho que quem vê caras, vê corações. Olhando para o líder da FENPROF, olhando para o bigodinho do líder da FENPROF, olhando para os olhos arremelgados (como diz a minha boa amiga D. Gorgete) do líder da FENPROF, olhando para as expressões e trejeitos do líder da FENPROF, acho que consigo ver o seu coração pleno de centralismo democrático nas aurículas, de uma grande presunção no ventríloquo esquerdo e de um imenso e disfarçado autoritarismo no ventríloquo direito. A veia cava transpira untuosidade e aparente bonomia, simpatia plástica que escorrega para o resto do sistema circulatório e transparece nos olhos que, se não fossem arremelgados, seriam bem mais convincentes. Assim, topa-se à distância onde quer chegar o líder da FENPROF. Os professores, com honrosas excepções, dá-lhes jeito seguir o provérbio popular e querem ser considerados uma corporação de elite, nível superior da sociedade portuguesa, a casta bramânica nacional que só é avaliada pelos deuses. O conhecimento que debitam não está escrito, é revelado. Eles, humildes mediadores entre a divindade e as pobres cabeças dos nossos filhos. Uma avaliação profissional e terrena, mataria esta corporação de sacerdotes e poria, não os corações ao alto, mas à vista.
Professor Karamba
Digam-me se não estão todos um bocado fartos do comentador oficial do PSD na RTP, o Professor Marcelo? Eu prefiro o Professor Karamba. O professor Karamba resolve, como o português Liedson. Resolve mau olhado, desavença, questões de dinheiro, de amor, encrencas partidárias, coelhices e pachequices. O professor Marcelo não passa de um fraco assistente do professor Karamba. O Professor Marcelo nem resolve problema de facção coisa da qual o Professor Karamba já nem se ocupa. RTP, convida professor Karamba, vai!
domingo, 1 de novembro de 2009
Subscrever:
Mensagens (Atom)